Opinião
Os senhores da guerra...
A II Guerra Mundial começou com anexações. Esta que só não vem aí, porque já cá está, começou também com uma violenta anexação do nosso senso comum
Somos todos nós. Que apoiamos a libertação de Gaza ou, então, o direito à existência do Estado de Israel, como se fossem incompatíveis clubes desportivos. Usamos os keffiyehs enrolados ao pescoço como cachecóis de futebol; ou os pins da estrela de David ao peito, como crachás de uma associação local.
Que queremos a destruição total da Rússia, mesmo que o preço seja o regresso do bafiento serviço militar obrigatório que não hesitaria em reduzir a cinzas os nossos filhos em nome de uma guerra que, desta vez, será nossa. De todos.
Nós, que somos os senadores McCarthy modernos, e que apesar de não o conhecermos, repetimos as suas palavras todos os dias nas redes, sobre a miséria e o falhanço dos países comunistas (como se ainda os houvesse), mas varremos para debaixo do tapete a epidemia de opiáceos no berço da liberdade (EUA) que matou, por overdose, em 2022, 73.654 cidadãos americanos, e transformou a “América” num estado-prisão, com as pessoas a viverem o milagre do liberalismo em insalubres cidades-tenda, nas ruas esquecidas pelo olhar social.
Nós: a miúda que se deslumbra pelo povo, sempre ao lado dele mas nunca no meio dele, na eterna dinâmica do faz o que eu digo, mas não faças o que eu faço, da nova esquerda; nós, na estúpida ignorância dos liberais que acham que não vivemos plena e presentemente num regime que, sem critério ou regras de maior, nos explora, com consequências catastróficas a nível de sociedade, clima e economia. E nem uma palavra para os que nos vêm salvar. Apenas um voto de silêncio.
A II Guerra Mundial começou com anexações. Esta que só não vem aí, porque já cá está, começou também com uma violenta anexação do nosso senso comum, da nossa empatia e da nossa moralidade, e, que, por causa disso, reclamará mais vítimas mortais do que qualquer outro conflito do passado.
Esta guerra é um filho desejado.