Opinião

Para além das eleições autárquicas…

25 set 2021 15:45

Deixo apenas os dados para que os eleitores façam o seu próprio juízo

Meu Caro Zé,

Hoje vou centrar-me nas eleições autárquicas e, em particular, no nosso distrito.

Porquê? Porque no nosso jornal de 19 de agosto havia um suplemento sobre a Batalha com um artigo com o título “2021, Odisseia nas Autárquicas” e, subtítulo “O inesperado acontece este ano na Batalha: … um movimento de independentes vai disputar a Câmara com o actual presidente”.

Não seria tema para a nossa conversa se, no desenvolver do artigo, não viesse referido que essa lista era encabeçada por Raul de Castro (antigo presidente pelo CDS), tendo como mandatário António Lucas (antigo presidente pelo PSD), e que a lista conta com o apoio do PS, que abdicou de apresentar lista própria.

Teríamos aqui um tema interessante sobre o que é uma lista de “independentes”, dada a composição da lista, cuja “unidade” é o ser contra a situação atual.

Apesar disso, talvez o assunto não fosse suficiente para escrever sobre ele.

Só que, na página 8 do jornal desse mesmo dia, se apresentava um quadro com o “Orçamento das candidaturas no distrito de Leiria e do concelho de Ourém”, que me surpreendeu com os montantes disponíveis para os alegados “movimentos independentes” e, muito particularmente, o relativo à Batalha.

Efetivamente, esse valor representa 6,53 euros por eleitor do concelho da Batalha, enquanto em todo o distrito de Leiria o PS terá 1,16 euros por eleitor, o PSD 1,08 e a CDU 0,53 euros.

Aliás, esse movimento tem um orçamento só para a Batalha (3,4% dos eleitores do distrito) que representa 7,3% do montante orçamentado por todas as listas do distrito.

Acresce que o Público (13-09-2021) refere que o PSD previa gastar no Porto 200.000 euros (0,97 euros/eleitor) e em Lisboa 300.000 (0,63).

Tendo em atenção o que está em jogo nestas duas cidades, não parece haver dúvida que a Batalha se torna um “estudo de caso” nas eleições autárquicas, incluindo uma necessária reflexão sobre a genuinidade de certos movimentos independentes e as fontes de financiamento.

Deixo apenas os dados para que os eleitores façam o seu próprio juízo.

Este tema não será muito diferente do modo como o governo do Partido Socialista e, muito especialmente o seu primeiro-ministro, teria usado a “bazuca” para influenciar as autárquicas.

A este propósito, limito-me a citar o historiador da Grécia antiga, Plutarco, no seu livro Lisandro e a Supremacia de Esparta, a propósito da posse e uso das moedas de ouro ou de prata: “Poderia cada espartano deixar de atribuir valor, nos seus negócios, ao que ele via ser tão estimado e tão procurado pelos negócios públicos? Mas é do exemplo dos costumes públicos que decorrem os maus costumes na conduta dos particulares, muito mais do que os vícios e as faltas destes contribuem para a depravação das cidades. É natural que um todo viciado arraste facilmente as suas partes para a corrupção, ao passo que as afeções viciosas de uma só parte podem ser socorridas e remediadas por aquelas que estão sãs.”

Até sempre.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990