Opinião
Para o ano há mais
Para o óbvio já temos as listas dos mais vendidos, os top + da vida
Depois de não conseguir fazer qualquer resumo de melhores discos do ano, como por aqui expliquei o mês passado, passei umas boas horas de Dezembro a espiolhar todas as listas que me foram passando pela frente. As de revistas, de jornais, de blogs, de amigos, de conhecidos, de amigos de amigos, as oficiais e as pessoais, as nacionais e as internacionais.
Sem contar com aquelas mais pessoais - as dos amigos, dos conhecidos e as dos amigos dos amigos - pareceu-me tudo mais ou menos igual. Pouco surpreendente. Chato até. Rosalía, Beyonce, Kendrick Lamar, Bad Bunny… o futuro, dizem. A inovação, garantem. Este futuro cheira-me um bocado a bafio. Mas, nem é por isso. Gostos são isso mesmo, gostos.
O problema (problema para mim, entenda-se) é que a maior parte do tal futuro destas listas do presente (pelo menos em 2022) entusiasma-me zero. Demasiada unanimidade sempre me fez um bocado de confusão. Snobismo? Claro que sim. Sempre fui um “snob musical” armado ao pingarelho, não era agora, no último ano dos quarentas, que ia mudar.
O que eu procuro numa lista de melhores discos do ano em publicações que me habituei a respeitar ao longo dos anos é mais do que o óbvio. Para o óbvio já temos as listas dos mais vendidos, os top + da vida. Ler as listas de uma norte-americana Pitchfork ou de uma espanhola Rockdelux hoje em dia, para citar só duas das que mais acompanhei ao longo dos anos, é penosamente insípido. Desinteressante.
Em quase todas as que li, consegui não encontrar 90 por cento dos discos de que mais gostei este ano e não consegui encontrar nada que não tivesse ouvido e tivesse de ouvir de imediato. Nada! Não encontrei em nenhuma o “Looking Glass”, da Alela Diane e isso, só por si, deveria ser crime. Nas listas nacionais também não vi (indecentemente) o fabuloso “Ó nossa”, da Júlia Reis.
Ainda assim, foi das escolhas de música feita em Portugal do Blitz, do Altamont e do Sapo que mais coisas guardei e acrescentei à playlist “Discos por ouvir”. Menos mal. Mas, pronto, chega de lamúrias de velho dos Marretas. 2022 já lá vai, para o ano há mais.
Que venham essas listas de 2023. Cá estaremos para as ler, analisar e, claro, vilipendiar. Boas entradas e melhores saídas.