Opinião
Parcimónia, o grande cuidado a ter
São espetaculares os antibióticos, mas sofrem de um grande mal. Algumas bactérias, preocupantemente cada vez mais, conseguem deles evadir-se
Antibióticos! Hoje demasiado banais. Há 100 anos, um luxo. Mudaram-nos a vida. Mais do que pensamos. Vivemos hoje mais de 80 anos, em média, porque, primeiro aprendemos a lavar as mãos, graças ao Dr Semmelweis, e depois descobrimos os antibióticos, com Sir Alexander Fleming como pioneiro.
São espetaculares os antibióticos, mas sofrem de um grande mal. Algumas bactérias, preocupantemente cada vez mais, conseguem deles evadir-se. Mas primeiro um pouco de história. Semmelweis, médico no século XIX, ainda antes do mundo saber o que são bactérias, percebeu que a febre que tanto matava as parturientes teria origem em algo externo, ao ver um seu assistente cortar-se com o bisturi que estava a usar na autópsia de uma dessas vítimas e depois ficar com os mesmos sintomas.
A partir daí todos os seus assistentes lavavam e desinfetavam as mãos antes dos partos, e a taxa de mortalidade das parturientes diminui de 18 para 2%. Contudo, foi desconsiderado pela comunidade científica e médica da altura. Só mais tarde, quando Pasteur demonstrou a Teoria Microbiana das Doenças, ou Teoria dos Germes, a sua hipótese foi reconhecida.
Fleming foi mais feliz na sua história, sempre gira de contar. Porque conta que terá sido o seu assistente a fazer a grande descoberta, ao reparar que onde inadvertidamente apareceram fungos numas placas, não cresciam bactérias. Uns dias depois, “eureka”, se não cresciam bactérias perto do fungo seria porque o fungo produzia algo que as matava! E assim surgiu a penicilina.
Com o subsequente inegável esforço da química, para a purificar e sintetizar em larga escala. Claro! Nenhuma ciência o é sozinha! Muito menos para se transferir para a sociedade... O que é claramente mérito de Fleming é o alerta que fez ao mundo ao receber o Prémio Nobel pela descoberta da penicilina.
As bactérias rapidamente adquirem capacidade de lhe sobreviver. Disse-nos, em 1945. Hoje, quase 80 anos depois, são várias e cada vez mais. Resistentes a este e a tantos outros antibióticos. E em simultâneo! Preocupante! Muito preocupante! Tanto que, para além do Dia Internacional do Antibiótico a 18 de novembro, a Organização Mundial da Saúde dedica neste mês toda uma semana ao problema da resistência antimicrobiana. Uma pandemia que já nos assola há muito. Que vitima quase um milhão de pessoas por ano! E vai continuar a vitimar se nada fizermos para a contrariar. Prevenir é sempre o melhor remédio. Mas quando o temos que tomar, cumprir as doses, duração e frequência é mesmo essencial!