Editorial
Pastores ou ‘príncipes’ na Igreja?
Monsenhor Luciano Guerra questiona se o actual modelo de gestão do Santuário não colide, de certa forma, com a essência da Mensagem de Fátima
Está aí mais um Natal. É tempo de encontros e reencontros, é tempo de solidariedade, de celebração, de tolerância, de reunião familiar, de expectativa e de esperança. Nesta edição especial, procurámos saber como vivem o Natal as diferentes gerações e percebemos, no que respeita a tradições, que o espírito natalício pode estar hoje mais refém do Pai Natal que do Menino Jesus, mas não dispensa o tradicional prato de filhós ou coscorões.
Ficámos a saber também que há cada vez mais famílias a escolher o conforto dos hotéis para celebrar a Consoada ou degustar o almoço do dia 25 de Dezembro. Com as reservas de última hora ainda por contabilizar, a taxa de ocupação para esta época festiva, oscilava entre os 50 e os 80%.
Recolhemos testemunhos de quem não dispensa a reunião familiar na casa que for maior, que recorre ao ‘amigo-secreto’ para fintar a crise, ou assume o compromisso de não se deixar arrastar pelo consumismo de ocasião. E escutámos os estudantes estrangeiros que estão longe da família.
Fomos conhecer o trabalho de dois criativos, no que a presépios diz respeito, e,em ambos, descodificámos uma profunda dose de paixão, no conceito e na forma como moldam o barro. Confirmámos o aumento do volume de trabalho das instituições que apoiam os que estão numa fase menos boa da vida e constatámos uma vontade ainda maior de fazer o bem, olhando a quem.
Escolhemos algumas sugestões de prendas, todas com origem na nossa região, e desafiámos músicos e cinéfilos a elaborar uma lista de músicas e filmes para animar a festa ou desfrutar nas pausas natalícias de sofá.
Ouvimos os alertas e conselhos dos informáticos, num mês que costuma ser recordista em matéria de ciberataques, à boleia da troca de mensagens de Boas Festas.
E, ‘cereja no topo no bolo’, monsenhor Luciano Guerra, figura incontornável na reorganização administrativa e na projecção internacional do Santuário de Fátima, aceitou o desafio do JORNAL DE LEIRIA para a primeira entrevista, desde que deixou a liderança do templo da Cova da Iria.
Nas entrelinhas, e salvaguardando o direito a opiniões contrárias, o sacerdote questiona se o actual modelo de gestão do Santuário não colide, de certa forma, com a essência da Mensagem de Fátima e com o apelo expresso pelo Papa Francisco num dos últimos consistórios públicos para criação de novos cardeais: “Jesus não os chamou para se tornarem ‘príncipes’ na Igreja, mas para servir como Ele e com Ele”. Um feliz Natal.