Opinião
Património? Divisão não faz identidade
Mesmo com os grandes monumentos, na região, estamos a perder a paridade da sua envolvência
No próximo mês fará 48 anos que o Comité do Conselho de Ministro da Europa adoptou a Carta Europeia do Património Arquitectónico, em Estrasburgo, a 26 de Setembro de 1975, a que Portugal aderiu, tendo a mesma sido solenemente proclamada no Congresso sobre Património Arquitectónico, em Amesterdão, no mês de Outubro do mesmo ano.
O objectivo desta “Carta” era a união entre os membros do citado Conselho da Europa, com a missão de salvaguardar e promover os “ideais e princípios que constituem o seu património comum”.
Entre os 10 pontos definidos, o primeiro apontou o caminho que, quase 50 anos depois, parece esquecido. Isto é, o património arquitectónico não pode ser identificado apenas pelos monumentos mais importantes, mas também “pelos conjuntos de construções mais modestas das nossas cidades antigas e aldeias tradicionais inseridas nas envolventes naturais ou construídas pelo homem”.
Ao longo de muitos anos, na maioria dos casos, apenas os monumentos de maior pertinência foram minimamente salvaguardados e restaurados e foi esquecida a preservação do contexto envolvente. Por isso, ficamos indignados com o facto de algumas localidades serem ignoradas pelo “circuito turístico” ou por este apenas ser um conjunto de pessoas que passa e não consome, regressando a Lisboa para pernoitar e fazer o maior consumo.
Mesmo com os grandes monumentos, na região, estamos a perder a paridade da sua envolvência e consequentemente a identidade da cada uma das localidades onde estão inseridos.
Sendo o património arquitectónico uma expressão histórica, perante uma sociedade em constante mudança, o distrito de Leiria, nas últimas décadas, não se conseguiu armar como um todo.
Surgiram, e continuam, várias divisões, algumas delas suportadas pelas autarquias, e não se conseguiu alcançar a armação que deveria ser a verdadeira identidade da região.
Como consta no ponto 4 da supracitada “Carta”, os conjuntos arquitectónicos históricos favorecem o “equilíbrio harmonioso das sociedades”. Sem equilíbrio não existe identidade e com divisão… muito menos…