Opinião
Pequenos ditadores
Penso sempre que a avaliação psicológica seria útil em muitas profissões – tal como em pilotos de aviação – e a profissão de político em cargo de poder seria uma delas
Síndrome de Hubris pode ser uma “doença”, mas ainda não está reconhecida pela Medicina. Os sintomas de muitos “políticos chalupas” são, segundo o neurologista David Owen, o autor de “Na Doença e no Poder”, fáceis de reconhecer:
• uma exagerada confiança dos líderes em si
mesmos;
• desrespeito pelos conselhos daqueles
que os rodeiam;
• afastamento progressivo da realidade;
• quando as decisões são erradas, nunca
reconhecem o equívoco e continuam
convencidos que tomaram a decisão certa.
“O poder intoxica tanto que acaba por afectar o juízo dos dirigentes”, afirmou o autor ao diário britânico Daily Telegraph.
Há muito que me interrogo sobre o facto de muitas pessoas com poder, em certa fase da sua carreira “descolarem da realidade” e tornarem-se pequenos ditadores. Só a ciência poderá um dia explicar se existe realmente essa correlação, mas seria plausível que pessoas altamente narcisistas tivessem características que os eleitores admiram: confiança cega em si próprios, parecendo sempre saber o caminho certo a tomar, cegueira selectiva que os leva a apenas ouvir os lambe-botas e uma vitimização sentida, sempre que são confrontados com opiniões contrárias.
Os “chalupas” acreditam realmente que são donos da razão e o mundo apenas não os compreende. E o povo gosta de gente que “ raramente se engana e nunca tem dúvidas”. E vota neles.
Penso sempre que a avaliação psicológica seria útil em muitas profissões – tal como em pilotos de aviação – e a profissão de político em cargo de poder seria uma delas. Afinal, se um piloto de aviões tem a vida de centenas de pessoas nas mãos todos os dias, um político – de certa forma – pode condicionar a vida de muitas pessoas também.
Infelizmente nunca vi ninguém defender esta ideia como exequível, talvez porque isso significaria que realmente corremos o risco de ser governados por loucos e isso, convenhamos não é uma ideia muito popular. É preferível acreditar que quem nos governa sabe muito bem o que está a fazer e – mais importante que tudo – está preocupado com o bem estar dos eleitores (nesta parte engasgo-me…).
Então o que sobra à cidadania activa? Conformar-se com esta preocupante realidade? Acho que não.
O que sobra para todos nós é redobrar os esforços para controlar, vigiar as acções do poder – da Junta de Freguesia ao Governo – e sobretudo fazer uma coisa muito importante: comparar o que os políticos dizem com aquilo que realmente fazem.
Só isso, meus amigos, já é um tratado de saúde mental…