Opinião
Porque é que se vive bem pior?
Acabámos com a universidade da “vida”; secundarizámos a formação, de modo a entregar os destinos do mundo e das bavaroises de morango, a uma série de ilustres desconhecidos
Vou muitas vezes a Leiria. Comer, fazer a barba, ver concertos, tratar da mente e do corpo. Outro dia, passei por um cartaz que anunciava uma feira de doçaria. Eu nem sou muito guloso, mas, o que era giro, era a abundância de títulos no cartaz: Chef Marco, Chef Mafalda, etc. Isto deve, mesmo, arrepiar os estudantes de Hotelaria.
Afinal, para quê tantos anos a apurar a bouillabaisse, se um TikTok famoso, ou a notoriedade por casamento, ou umas idas ao programa da manhã, bastam para termos o prefixo certo? E é esse o “problema”.
Acabámos com a universidade da “vida”; secundarizámos a formação, de modo a entregar os destinos do mundo e das bavaroises de morango, a uma série de ilustres desconhecidos que subiram ao cartaz das melhores rotundas de Leiria, sabe “Deus” como.
A pergunta é tão óbvia que dói: se há tanto influencer, tanto ativista, tanto chef, tanto modelo, porque é que se vive bem pior, porque é que as causas são agora tão ocas, porque é que o bolo lá do senhor da pastelaria, sem estudos, sabia tão melhor, porque é que era tudo mais belo, mais natural, sem tanta pressão ou julgamento?
Quando descobrirmos esta resposta, talvez a gente converse outra vez, entre dois copos de água fresca ou de tinto maduro. Mas, por ora, é aguentar e tentar rir que é pra não chorar.