Opinião

Prevenir é o melhor remédio, rastrear o melhor tratamento

16 dez 2022 11:54

Que bela prenda de Natal seria todos termos os nossos rastreios oncológicos em dia

São vários os níveis de prevenção para a saúde. Os rastreios oncológicos são uma importante forma de prevenção secundária, em que se procura em subpopulações específicas, ainda sem sintomas, sinais precoces de algumas neoplasias de elevada incidência, permitindo assim o seu tratamento atempado, e com isso, maior probabilidade de sucesso.

Em concreto, e até à data, o cancro da mama, do colo do útero e colorretal eram aqueles com rastreios nacionais. Os dois primeiros destinados a mulheres entre os 50 e os 69 anos no primeiro caso, e 25 e 60 no segundo. O terceiro a ambos os sexos, entre os 50 e os 74 anos, genericamente.

Esta semana recebemos a notícia de que não só o espetro de idades dalguns destes rastreios será alargado, como também novos rastreios serão instituídos, para deteção precoce do cancro gástrico, pulmão e próstata. Estes responsáveis por cerca de 10000 mortes por ano em Portugal, antecipando-se assim ganhos importantes para a nossa saúde e economia.

Porque também a economia terá ganhos significativos, por não perder precocemente força produtiva. Mas com custos. Porque os rastreios também têm custos. Diretos, pelos exames associados e respetiva alocação de recursos humanos para a sua execução, interpretação e consequente atuação. E indiretos, pelas faltas ao trabalho para a sua realização.

Não basta, portanto, instituir rastreios. É preciso acautelar medidas que garantam a sua efetiva concretização em toda a população alvo. Porque só assim são eficazes e se traduzem verdadeiramente em ganhos para a saúde e para a economia.

Caso contrário, traduzem-se apenas em custos, elevados, para o nosso sistema de saúde, porque falham naquilo para os quais foram criados: detetar aquela “uma pessoa em mil” com sinais silenciosos duma determinada neoplasia.

Talvez assim como se exige nas escolas o plano nacional de vacinação atualizado, o mesmo se possa fazer no mercado laboral. O cumprimento individual do plano nacional de rastreios oncológicos poderia ser obrigatório. Quiçá passar a fazer parte das valências da medicina do trabalho, encaminhando para os centros de rastreio oncológico os trabalhadores das faixas etárias correspondentes.

Porque se os empregadores tiverem que garantir que os seus trabalhadores têm “os rastreios em dia”, terão, a médio-longo prazo aumentos na sua produtividade global, por não os perderem para estas neoplasias. Não só pela infeliz mortalidade associada, como pelos longos períodos de baixa para a realização de penosos tratamentos, com sequelas que impedem, muitas vezes, o regresso ao trabalho.

Rastreando atempadamente, estes tempos, sequelas e mortalidades serão menores. Todos ficam a ganhar. Investir hoje para ganhar amanhã. Ao jeito dos princípios económicos. Que bela prenda de Natal seria todos termos os nossos rastreios oncológicos em dia.

A garantia de um uso racional deste importante investimento nacional, tornando-o efetivamente eficaz. Porque se prevenir é o melhor remédio, rastrear garante mesmo o melhor tratamento.