Opinião

Quando iremos proteger o que é nosso?

16 ago 2018 00:00

O director do Mosteiro da Batalha, Joaquim Ruivo, afirma em entrevista na edição desta semana do JORNAL DE LEIRIA que a “população da Batalha tem de ser uma voz na luta para o fim das portagens na A19”.

O responsável acredita que assim os batalhenses assegurariam, não apenas a saúde e bem-estar do monumento, mas também a sua e a dos seus filhos.

Ou seja, se as gentes da região se unissem e demonstrassem alguma da energia que colocaram no protesto contra a criação de um muro de protecção do mosteiro, o processo poderia andar para a frente, já que o Governo, aparentemente, prefere perder dinheiro com aquele negócio ruinoso do que criar uma solução.

Àqueles a quem a identidade e a defesa daquilo que é seu nada diz, há que recordar que uma ligação directa, pela A19 a Leiria, permitiria uma poupança de tempo e combustível.

Quando o Estado Novo determinou que o futuro IC2 rasgasse a antiga Cerca do mosteiro, tornando-o numa chaga que envenenou com a sua poluição o Mosteiro da Batalha e quem vive na vila, o argumento justificativo foi que seria agradável para as dezenas de automobilistas que ali passavam contemplar a obra-prima.

Hoje, são milhares os condutores que por ali passam, 24 horas por dia, e a maioria está já devidamente maravilhada pela arquitectura. Fica o desafio de avançar para acções mais musculadas e organizadas.

Em Leiria, a semana ficou marcada por (mais) uma polémica, envolvendo uma igreja que já não o é, transformada em espaço de tolerância.

Após um espectáculo de Dança Contemporânea, que aconteceu há meses, um punhado de pessoas da cidade que almeja ser Capital da Cultura viu uma fotografia desgarrada e ficou chocado com a visão de raparigas em calções curtos a dançar em cima de uma antiga pedra que, quer se queira quer não, já não é um altar.

A autarquia, resolveu e bem, jogar pelo seguro, e, para tentar evitar polémicas, mudou dois concertos do festival Extramuralhas para o Museu de Leiria, que até é um antigo convento.

Eram espectáculos líricos e intimistas que iriam acontecer no Centro de Diálogo Intercultural (CDIL), com música de elevada estética, que não ofenderiam os santos e crucifixos que ali se mantém, por imposição do proprietário do espaço, construído em cima de uma sinagoga.

Afinal, o imóvel que dá guarida ao CDIL é da Misericórdia de Leiria, e não do município. Agradou-se aos críticos e acicatou-se a ira dos agentes culturais e de boa parte do público da cidade.

Quem ficou a ganhar foi a Fade In, a associação cultural, que organiza o festival, ao receber um espaço onde muito mais pessoas poderão abrir as suas mentes à música e cultura alternativas.

Talvez as “coloridas” roupas e rendas negras do público do festival que tem lançado o nome de Leiria no Mundo pudessem ofender a cidade que Eça tão bem retratou no século XIX.

Mesmo criticado, Cristo sempre abriu a sua Igreja a todos e foi essa característica que, num mundo marcado pela violência e intolerância, atraiu os primeiros cristãos à Boa Nova.

Reflictamos nisto.

*jornalista