Opinião
Quatro álbuns para abril
Só agora me dei conta de que são quatro discos de projetos liderados por mulheres. Glória a Elas e à Ucrânia
Passo por aqui no penúltimo dia de março para vos deixar quatro recomendações discográficas para dissecarem devagar durante o mês de abril. Em comum, estes álbuns gozam de um território musical personalizado, quer seja através do experimentalismo que camuflada e/ou descaradamente encerram, quer seja pela toada ritualista e espiritual que por vezes abraçam.
Ora vamos lá: 1 - “Mana”, da italiana Lili Refrain, compositora, cantora e multi-instrumentista que vai abrir o festival Extramuralhas 2023 com um concerto a não perder (será na Igreja da Pena, em pleno Castelo de Leiria) é um manancial de emoções que nos arrepia a espinha e nos aconchega simultaneamente. Dele emergem estruturas sonoras feitas através de percussão, guitarra e sons eletrónicos etéreos, onde a transalpina solta a sua voz prodigiosa, remetendo-nos, amiúde, para lugares onde encontramos Anna Von Hausswolf, Lisa Gerrard e Diamanda Galás. Um disco absolutamente mágico!
2 - “Strega Beata” é o novo álbum da norte-americana Lana del Rabies, às vezes considerada “impostora” de Lana Del Rey. Mas em comum têm apenas parte do nome. De resto, Rabies está nos antípodas musicais de Rey, uma vez que o seu universo é francamente exploratório, ou não fosse o seu confesso “amor mórbido” pelos Coil ou por Pharmakon, uma “imagem” de marca da sua sonoridade. Este é um álbum que pode dar algum trabalho a penetrar, mas quando conseguimos furar a sua pele não mais o queremos “despenetrar”.
3 - “93696” é o novo álbum de Liturgy, uma banda de Nova Iorque liderada por uma extra-terrestre artística chamada Ravenna Hunt-Hendrix, que aqui revela, mais uma vez, a (sua) extraordinária capacidade de misturar música eletrónica, black-metal, drone, industrial, tribalismo e post-rock, sem qualquer tipo de preconceito. Grande álbum!
4 - “Child Of Sin”, da neerlandesa Kovcas (o tema-título tem a participação de Til Lindermann, a voz dos Rammstein), é um disco pop-cabaret-soul “infestado” pela deliciosa voz da autora cujo timbre, grave, é um grave aditivo que nos cola ao álbum como os caramelos nos dentes (onde é que já escrevi isto?). Experimentem por vossa conta e risco!
PS: só agora me dei conta de que são quatro discos de projetos liderados por mulheres. Glória a Elas e à Ucrânia.