Opinião
Resistir, sempre!
Esta retórica despudorada corrói a democracia e instiga o ódio. É por isso imperioso que não baixemos a guarda
O resultado das últimas eleições moralizou um sector da população que passou a diabolizar a esquerda sem quaisquer tipos de restrições de linguagem, “crucificando” pessoas pelas suas posições humanistas e antifascistas, e vangloriando abertamente e sem pudor o antigo regime.
Nesse particular, tem-se destacado Gabriel Mithá Ribeiro, deputado do Chega eleito por Leiria que, nas redes sociais, nos mostra ser uma figura controversa e polarizadora, não apenas pelas suas opiniões, mas pela forma como as expressa: provocadoras, desdenhosas e, por vezes, perigosamente revisionistas.
A sua defesa reiterada de elementos do salazarismo é particularmente alarmante. Ao procurar reabilitar a memória de um regime autoritário, racista e repressivo, Mithá Ribeiro banaliza a violência do Estado Novo, ignorando décadas de censura, perseguição política, tortura e negação de liberdades fundamentais.
Essa tentativa de revisionismo histórico é não só intelectualmente desonesta como eticamente inaceitável, e é sobretudo uma afronta a todos quantos sofreram sob o jugo da ditadura. Mais grave ainda é a sua postura ostensivamente ofensiva e arrogante perante quem se identifica com ideais de esquerda.
Em vez de promover o debate democrático, Mithá Ribeiro opta pela caricatura e pelo insulto, tratando os seus opositores ideológicos como inimigos a abater. Demoniza o pensamento progressista, rotulando-o de forma simplista e maliciosa, como se defender a justiça social, igualdade ou direitos humanos fosse sinónimo de ignorância ou subversão.
Num momento em que o discurso público exige responsabilidade e rigor, a presença de figuras como Mithá Ribeiro nos espaços de decisão e influência representa um retrocesso.
A sua glorificação de um passado ditatorial e o desrespeito constante pelas vozes divergentes são sinais claros de um projeto político que rejeita a convivência democrática e que procura, através da provocação, normalizar a intolerância e a ignorância histórica.
Esta retórica despudorada corrói a democracia e instiga o ódio. É por isso imperioso que não baixemos a guarda, que não nos deixemos intimidar, e que não tenhamos medo de quem nos quer vencer pelo medo. Resistir, sempre!