Opinião

Revivalismo e nostalgia

14 abr 2023 11:28

Despoluir o Lis e levar os suinicultores a não deitar efluentes no rio é o “Eu sou aquele” do debate leiriense, um clássico da nostalgia dos anos 90

No dia 19 de maio de 2023 haverá, no Altice Arena, um concerto da boy band portuguesa Excesso. A banda, formada quando o local do concerto se chamava Pavilhão da Utopia e foi uma das obras emblemáticas da EXPO 98, é um dos marcos da memória dos anos 1990 em Portugal. Cinco jovens garbosos com músicas orelhudas e coreografias ousadas deixaram uma memória numa geração que os volta a receber nostalgicamente vinte e cinco anos depois.

Esta não é, aliás, a única manifestação de nostalgia da década de 90. São frequentes as festas em que são recuperadas as músicas e as indumentárias dos anos 90. Mas, ultimamente, reparei que há uma tendência para recuperar para a discussão pública temas dos anos 90.

Esta semana foi notícia que Monte Real foi incluída nas hipóteses a considerar para o novo aeroporto de Lisboa. Por iniciativa da Câmara Municipal de Leiria, a Comissão Técnica Independente irá avaliar a hipótese de a Base Aérea n.º 5 se tornar no Aeroporto de Lisboa, substituindo a Portela. Esta hipótese é uma variação da sempiterna discussão da abertura de um aeroporto em Monte Real – ainda que com argumentos diferentes.

Se, nos anos 90, eram apontados como motivo a proximidade de Fátima (aparentemente os peregrinos só estavam dispostos a percorrer distâncias longas a pé e não de outros meios de transporte) e o atrativo das Termas, atualmente os 155 quilómetros que separam Monte Real de Lisboa não parecem ser um obstáculo para localizar na pitoresca vila no concelho de Leiria o Aeroporto Internacional de... Lisboa.

Há duas semanas tivemos nova onda de revivalismo: a localização do terminal rodoviário de Leiria. O edifício da Avenida Heróis de Angola deverá deixar de acolher o hub de autocarros devido à “negociação para potencial venda do edifício”. Há, também aqui, uma variação: lembro-me, em décadas anteriores, de motivos como a falta de condições, a falta de espaço, os constrangimentos de circulação, e a poluição.

A atual proposta de colocar o terminal rodoviário junto ao estádio é, também, um revivalismo, recuperando uma proposta antiga. E afinal na zona temos apenas o estádio (e diversas ocupações do topo norte), as piscinas, o futuro pavilhão, a feira de levante, a feira de Maio e um estacionamento, portanto...

Perante tanto “Revenge of the 90’s”, estou ansioso para que comece a discussão sobre a despoluição do Rio Lis. Despoluir o Lis e levar os suinicultores a não deitar efluentes no rio é o “Eu sou aquele” do debate leiriense, um clássico da nostalgia dos anos 90!