Opinião
Se fosse comigo
A única certeza que temos nestas coisas do “se fosse comigo”, é que não foi
Um dos grandes males do mundo é que, por vezes demais, nos sentimos melhores que os outros. O outro, é a profunda depressão de estarmos na nossa pele e mente. A distância entres dois males não é assim tão grande.
Quando uma pessoa que “conhecemos” é alvo de uma situação qualquer, por exemplo, caluniado nas redes e responde “à altura” da baixeza, não conseguimos evitar dizer-lhe “deixa lá isso” ou “és superior a isso”. Podemos, à primeira vista, até ter boas intenções, mas mais do que seria desejável, estamos a aprofundar a amargura do nosso visado, ao desaprová-lo.
Essa desaprovação coincide com a frase que abre este artigo, pois, mesmo fora de consciência, fazemos parecer ao outro que ele errou, que nós, no lugar dele, lidaríamos de outra forma (mais acertada) com a situação e que conseguiríamos não nos fragilizar pelas coisas com que o nosso amigo se deixou levar.
Raras vezes nos permitimos entrar na pele dos outros, sendo a nossa primeira reação aquela que o nosso amigo menos esperava, o que o leva a um duplo prejuízo, numa dinâmica ofensa-resposta-não devias responder, que os manda ainda mais para baixo, porque se amizade é mais compreensão que juízo de valor, bem, aí temos um problema.
Dizer que o fazemos por amizade e para o nosso amigo avançar; ou porque, na verdade, pensamos que sabemos fazer melhor, é um dilema moral que até arrepiaria Immanuel Kant, o homem por detrás do bem desinteressado e das perplexidades éticas do ladrão.
A única certeza que temos nestas coisas do “se fosse comigo”, é que não foi. Que nos falta contexto, emoção, a vivência do momento em que a pessoa se sentiu ofendida e decidiu responder.
E, que se é impossível obter essas coordenadas, é bem mais possível ativar a empatia, apurar o ouvido, abrir o coração e tentar entender porque assim foi e porque não teve o nosso amigo o condão de relevar o que dele disseram.
Vale o que vale, mas “se fosse comigo” era assim que eu faria.