Opinião

Ser professor hoje

23 jun 2016 00:00

Após a polémica gerada por Pedro Passos Coelho ao ter aconselhado os professores com uma situação profissional frágil a emigrar.

Também António Costa foi alvo de críticas por ter abordado o assunto de uma forma que, para alguns, indiciou a mesma opinião da do ex-primeiro-ministro.

É sabido que, como noutras profissões, a vida não está fácil para muitos professores, seja por falta de colocação seja por estarem a trabalhar longe da residência.

Mas não é necessário que venha o primeiro-ministro dar conselhos sobre o rumo que estes devem dar às suas vidas, muito menos se os “bitaites” passam por abandonar o País.

Os professores sabem pensar pelas suas cabeças e encontrar soluções para as suas vidas, sendo natural que lutem por exercer a profissão com que sonharam e para a qual investiram nos estudos.

Muitos há, no entanto, que já desistiram do que entendiam ser a sua vocação e abraçaram projectos noutras áreas, abandonando a docência pelas razões acima referidas, mas também por a profissão ter perdido competitividade ao nível das remunerações e da progressão na carreira, ao mesmo tempo que cresceu no trabalho burocrático e viu aumentar os problemas disciplinares com os alunos e de relacionamento com os encarregados de educação.

Nesta edição damos conta de alguns casos em que, por essas e outras razões, professores abandonaram ou suspenderam a docência para procurarem noutras áreas uma vida melhor e mais de acordo com os objectivos que têm a nível familiar, económico, de estatuto ou simplesmente em termos de motivação e de prazer.

Terá havido coragem nas suas decisões, mas também oportunidade para materializarem o desejo de mudança, assim como haverá inúmeros casos de professores que se mantêm nas escolas apenas por não terem ainda encontrado outra solução.

Sendo a Educação tão determinante para a evolução da nossa sociedade e para a competitividade do País, não pode deixar de ser preocupante que haja tantos professores descontentes com a sua situação e com vontade de mudar, assim como se deverá pensar nas consequências de a docência ter perdido atractividade, nomeadamente junto dos melhores alunos.

Certamente que com a saída de alguns dos exemplos apresentados, como noutros casos, o sistema de ensino terá ficado mais pobre por ter perdido bons profissionais. E mais frágil ficará no futuro se não tiver capacidade de atrair para as escolas pessoas com dimensão de pensamento, culturalmente ricas e emocionalmente fortes. Professores que consigam ser uma referência para os alunos, capazes de marcar o seu percurso escolar e de influenciar o seu futuro.

Mais do que as infra-estruturas, é a qualidade dos professores que determina a qualidade do ensino. Sempre que “fogem” bons professores foge também alguma qualidade, pelo que é urgente devolver à profissão de professor, como a outras da Função Pública, condições que permitam chamar os melhores.

*director do JORNAL DE LEIRIA