Opinião

Serei velha?

28 nov 2025 11:28

Será que o não abdicar do valor que teimo em atribuir a esta minha velha ideia obrigaria a IA a classificar-me de velha?

E eis que de novo me sinto maravilhada! Posso ver o amigo choupo a largar as suas folhas, as galinhas a preguiçar na postura, o meu Schlumbergera truncata já com botões florais! Na minha vida, nesta altura, quando o frio chega e toda a Natureza se põe a fingir que está a morrer, sinto-me maravilhada.

E se, por causa desta sua mentirinha, tal encantamento já não me bastasse, todos os anos, eu atribuo a esta sua aparente finitude novos significados. Um deles, por exemplo, o poder ser a inevitabilidade da morte uma necessidade para que uma nova vida surja, construída com mais resiliência, sapiência e pureza. Será que me ponho a pensar assim por ser velha? Ora, aqui hesitei! Deveria escrever velha ou idosa?

Fui consultar a IA e de entre outras coisas retirei que o termo “idoso” pode referir-se a “alguém que se renova a cada dia e que vive o presente” enquanto “velho” se refere a alguém que “está preso ao passado e que se fecha à modernidade”. Ainda com a IA a debitar ideias sobre o assunto, eis que me surgiu no ecrã um alerta de um artigo intitulado “Crianças que contam pelos dedos desenvolvem competências matemáticas mais avançadas”.

Neste caso e posicionando-me no patamar de idosa, fui “investigar” a credibilidade do dito estudo e dispus-me a lê-lo. Nele, a autora principal, Catherine Thevenot da Universidade de Lausanne, afirma que “Contar pelos dedos não é apenas uma ferramenta para o sucesso imediato em crianças pequenas, mas também uma forma de apoiar o desenvolvimento de competências aritméticas abstratas avançadas”.

Ora ainda bem - pensei para mim - porque afinal eu, apesar de com um objetivo diferente do enunciado neste artigo e que eu desconhecia, sempre permiti tal coisa aos meus jovens estudantes! Qual o meu objetivo? Nunca deixar que a aprendizagem da matemática desrespeitasse a individualidade de cada aprendente, isto é, percecioná-la sempre como uma valiosa ferramenta para auxiliar o empoderamento de cada criança e nunca a considerar um fim em si mesma.

Será que o não abdicar do valor que teimo em atribuir a esta minha velha ideia obrigaria a IA a classificar-me de velha? Não sei, mas também não me interessa. Se lhe perguntasse ela jamais compreenderia este meu encantamento pelo que ando a aprender: com a Natureza, sobre o sentido da morte; através das ciências e nos livros, as coisas novas que me provam a importância de que velhas ideias, quando ligadas ao amor e respeito que todos, em todas as idades, devemos sentir pelo outro, se mantenham, eternamente, vivas no nosso agir humano. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990