Opinião

Subsídios

11 dez 2022 11:14

O que as autarquias fazem é comprar. Comprar espectáculos, ou quadros ou esculturas, onde todo o investimento e todo o trabalho de construção está concluído

Por uma razão qualquer um dos mais importantes jornais diários, o “Público”, deu-nos a ler no dia 3/12 dois artigos sobre política cultural muito interessantes, cada um a seu modo. Interessantes não tanto pelo que aí se escreve mas pelo que representam de uma certa forma de entender o “problema cultura”. Na forma e no encadeamento argumentativo são claramente distintos mas a distinção sobrepõe-se e emaranha-se fatalmente.

Um dos artigos é de Pacheco Pereira (PP), intitula-se “Noli me tangere” o outro de um blogger e jurista, consultor na área fiscal, chamado Sérgio Guerreiro (SG) intitula-se “O acesso gratuito à cultura não a dignifica”. Nem penso em resumi-los, seria uma indelicadeza e um abuso que não me tenta mas, falando deles alguma coisa deles terei de trazer aqui.

Diz PP que “vendo a actividade “cultural” de algumas autarquias” só pode concluir que “em Portugal há mais criadores por metro quadrado do que na maioria do mundo” o que “significaria que as chamadas indústrias culturais, que são uma marca das cidades europeias dos dias de hoje, seriam uma significativa realidade económica e social em Portugal” (Voltando a folha, SG diz-nos no seu artigo que “o consumo cultural representa cerca de 3% do PIB, empregando aproximadamente 130 mil pessoas”).

PP clarifica-se, o cerne do problema é que ao invés das cidades europeias onde, mas só na cabeça de PP, as actividades culturais têm origem na “sociedade civil” por cá elas são subsidiadas. Pois, não são.

Se retirarmos da equação os milhares de criadores que não vêem nem um cêntimo do erário público e deixarmos só o punhado de subsidiados pelo MC, Portugal ombrearia, talvez, com a Antarctica em termos de actividade cultural.

O que as autarquias fazem é comprar. Comprar espectáculos, ou quadros ou esculturas, onde todo o investimento e todo o trabalho de construção está concluído. Tal como comprar um tomate não é subsidiar o agricultor, comprar um produto cultural não é subsidiar o artista. SG tem um problema metido neste, acha que o acesso à cultura não deve ser subsidiado por que não a dignifica. Vou ter de voltar a isto noutro dia, tenham paciência e bom Natal.