Opinião
Teorias (relativamente) rurais
Formidáveis zeladores do bem comum, são estes os melhores e mais sãos exemplares do 'Homo lisensis'
É com muito interesse que acompanho as tendências do pensamento local sobre os grandes temas da actualidade.
Dos muito interessantes apontamentos médicos partilhados no último ano sobre epidemiologia e pandemias, avançamos agora para clarificações sobre sociedades tribais da Ásia central.
Saberes complexos que, juntando-se ao debate futebolístico, provam a vitalidade de uma cidadania educada, preocupada não só com o que se passa cá dentro, mas também conscienciosa do mundo lá fora!
É com naturalidade que entre cestas de peras e morcelas hoje se ouvem vozes discorrer sobre os méritos de uma terceira inoculação, ou sobre as dificuldades do aparelho militar ocidental penetrar no Caracórum.
É junto de pensadores deste calibre que os candidatos autárquicos terão de recolher apoios para mais quatro anos de sacrifício.
Formidáveis zeladores do bem comum, são estes os melhores e mais sãos exemplares do Homo lisensis. Diligentes, puros, e com salários não consentâneos com as suas responsabilidades, estes homens encontrar-se-ão no final do mês com o sempre sabedor veredicto popular.
Mas na verdade – e aqui, sublinho, movido pelo pedagógico desígnio que geralmente me move – interessa clarificar que muito embora se constate a rotação das figuras de proa, a administração pública intermédia e os seus sombrios poderes se manterá inalterada, não escrutinada, e, como sempre, astutamente posicionada de forma vitalícia entre muros de papelada e nebulosas jurídico legais.
É este um modelo bem conhecido entre estados primitivos e em vias de consolidação, onde, segundo alguns reputados politólogos, a administração é sobretudo utilizada como manjedoura.
Serão estas, seguramente, as mesmas cabeças que hoje publicamente discorrem sobre o Afeganistão e sobre surtos pandémicos.
Temas populares, e que no fundo lhes são absolutamente desconhecidos, mas que autorizam a separação entre o café e o ensombrado escritório onde invisivelmente se detalham manigâncias e outros corruptos esquemas.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990