Opinião

Um passadiço em Leiria

10 dez 2022 11:01

Talvez seja o momento de deixar de decorar o castelo e sua encosta envolvente, e avançar com madeiramentos mais transversais à escala concelhia

Como é bom de ver, e mais fácil de entender, o que mais falta faz em Leiria é um bom passadiço! Não me refiro aqui a estruturas megalómanas, similares por exemplo à meia-maratona silvestre que o Município da Guarda conseguiu implantar por entre os vales do Mondego, mas a um equipamento porventura mais simples, também em madeira nórdica, que ainda assim medeie o espaço entre a planta do pé do convívio directo com a lama.

A nossa topografia pode facilmente acolher diferentes madeiramentos, quer inscritos em cotas mais verticais, quer em zonas planas. São enormes as vantagens a retirar de tais equipamentos, destacando-se, em primeiro lugar, a valorização do segmento dos importadores de madeira de pinho. Vendo mais além, pode consolidar-se também a diminuição da “pegada” carbónica, ao optar por colocar madeira em cima dos caminhos, em vez do mais conhecido alcatrão.

A famosa “volta do castelo” foi outrora alvo de uma intervenção deste tipo, mas este itinerário – hoje e sempre incompleto – esbarrou numa série de problemas, entre os quais: deficiente construção, abundante sombra, e, talvez mais o importante, ninguém lá passar.

São estes alguns dos fatores que garantem a sua actual degradação. Talvez seja o momento de deixar de decorar o castelo e sua encosta envolvente, e avançar com madeiramentos mais transversais à escala concelhia. Ao fim ao cabo, e conforme me ensinaram na escola, o Castelo de Leiria está instalado no que resta de um cone vulcânico.

Não sabendo o dia de amanhã, há até quem diga que em caso de erupção o passadiço do castelo seria um tipo de estrutura facilmente digerido pela lava quente.

Contudo, se a opção de madeiramento recair nas zonas ribeirinhas entre Porto de Mós e a Vieira, podemos garantir um tipo de lava mais fresca, como que refrigerada pelo caudais do Lis e do Lena e sua vegetação ripária. Devolvendo aos vales a centralidade que sempre lhes foi reconhecida!