Opinião
Unicórnios em Leiria?
A existência destes casos de sucesso posiciona o país num diferente paradigma de competitividade, de maior valor acrescentado, emprego altamente qualificado e gera externalidades positivas
Recentemente a empresa de tecnologia de Coimbra, Feedzai, entrou no restrito reino dos “unicórnios”.
Um unicórnio é uma startup que tem um valor de mercado superior a mil milhões de dólares.
Anteriormente, empresas como a Farfetch, a Outsystems e a Talkdesk tinham atingido este valor (na verdade a Outsystems tem hoje uma valorização potencial acima dos sete mil milhões de euros).
A Feedzai utiliza a inteligência artificial e machine learning (capacidade de aprendizagem dos sistemas a partir de dados) para ajudar instituições financeiras a identificar e prevenir fraudes nos pagamentos, branqueamento de capitais e outras atividades ilegais.
Ao contrário das empresas supracitadas, a Feedzai mantém a sua sede fiscal em Portugal, tal como a sua equipa de engenharia e produto, distribuída por Lisboa, Porto e Coimbra (cidade onde foi fundada por Nuno Sebastião, Pedro Bizarro e Paulo Marques).
Este facto gerou até uma pequena polémica nas redes sociais, com Nuno Sebastião a responder à mensagem de parabéns do Ministro da Economia, realçando que a empresa continua em Portugal (e os outros unicórnios não) sendo que o país necessita de condições fiscais e económicas para gerar mais casos de sucesso.
Porque é importante pensar nestas criaturas mitológicas?
Por um lado, a existência destes casos de sucesso posiciona o país num diferente paradigma de competitividade, de maior valor acrescentado, emprego altamente qualificado e gera externalidades positivas.
Por outro lado, mais casos de sucesso tendem a atrair novas dinâmicas de investimento internacional e fomentar atratividade de recursos humanos qualificados.
Obviamente, fatores como a escassez de mão-de-obra em tecnologias de informação, uma estrutura fiscal antiquada e a falta de um sistema de capital de risco dinâmico (em Portugal e na Europa) obrigam estas empresas a espalhar parte das suas estruturas noutros países como os EUA (fundamental na perspetiva do seu negócio).
E em Leiria, teremos capacidade para gerar unicórnios?
Sendo uma das regiões mais dinâmicas do país em diversos setores, Leiria não tem produzido até à data empresas de dimensão assinalável (segundo dados do Banco de Portugal, existem 18 grandes empresas em Leiria) e poucas referências nacionais nas áreas intensivas em conhecimento.
Este facto deve-se à especialização produtiva (é mais difícil crescer na esfera industrial que é dominada pelos grandes clientes internacionais), à incapacidade de fixar e criar mão-de-obra em IT em número suficiente e, no limite, a alguma distância das lógicas modernas de investimento e aceleração de negócios.
Na Startup Leiria estamos a ajudar a criar um ecossistema mais vibrante que possa contornar estes problemas e, quem sabe a médio-prazo, colocar um Unicórnio nas encostas do nosso Castelo.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990