Editorial

Violência social 

5 out 2023 08:32

Também o Governo parece ter-se esquivado a suportar os custos de um serviço que até anuncia como prioritário

Só quem por lá passou pode testemunhar o seu real valor. Mas mesmo não passando por lá, é fácil perceber a importância que teve, ao longo dos anos, na protecção e reintegração de centenas de mulheres e crianças vítimas de violência doméstica. E dizemos teve, porque já não tem. A Casa Abrigo da Batalha fechou.

Depois de anos a funcionar com financiamento garantido pelos fundos comunitários, deixou de poder concorrer ao programa europeu, por ter apenas sete camas e o mínimo exigido ser de 10. Perante esta condicionante, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, a entidade que geria o espaço, decidiu encerrá-lo.

A Casa Abrigo da Batalha foi das primeiras do género a abrir em Portugal. Só no ano passado, acolheu temporariamente 66 mulheres e 33 crianças vítimas de violência, que, por razões de segurança, não podiam continuar nas suas residências habituais. Mais do que um abrigo, foi ali que estas e outras mulheres encontraram um ambiente de apoio e compreensão, que recuperaram a sua dignidade e algum controlo sobre as suas vidas.

Agora, por um preciosismo burocrático, a rede de apoio às vítimas de violência doméstica na nossa região perde uma casa de acolhimento, por falta de financiamento. Ou seja, extinguindo-se a possibilidade de recurso aos fundos europeus, também o Governo parece ter-se esquivado a suportar os custos de um serviço que até anuncia, e bem, como prioritário.

Em Agosto último, foi a própria secretária de Estado da Igualdade e Migrações a assumir este desígnio. “O Governo assume como prioritárias as acções de prevenção e combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica, tendo presente a particular vulnerabilidade das vítimas. Neste sentido, daremos continuidade às medidas de protecção às vítimas, designadamente no âmbito do apoio das estruturas de atendimento e de acolhimento, e de autonomização, apoio e reforço psicológico”, assegurou Isabel Almeida Rodrigues, no lançamento de mais uma campanha de sensibilização contra a violência doméstica.

Esta foi a promessa. A realidade: a Casa Abrigo da Batalha encerrou.