Opinião

Voilá

7 jul 2023 16:37

Há demasiado faroeste digital programável em laboratório. Os problemas estruturais do mundo físico são replicados online

Eu gosto de França. Tinha previsto escrever sobre 2 assuntos em debate por lá, e vou fazê-lo, não sem antes lamentar o que se tem passado nos últimos dias.

Primeiro tema, um artigo do Figaro sobre a campanha francesa para combater excesso de turismo em locais como o Mont Saint Michel. A Ministra do Turismo diz que chegou a hora duma acção nacional para conter o excesso de turismo em vários locais.

Já em 2019 a Holanda foi no mesmo sentido, estavam “fartos” de ver pessoas pisar campos de tulipas só para tirar uma selfie, afirmando ser melhor haver menos turismo, ou pelo menos não em todo o lado.

Há uns meses estive em Alba, Itália, e o plano estratégico do turismo tem muito claro qual o turismo que quer promover, mas sobretudo, sabem o que querem proteger. Não querem gente por todo o lado desordenadamente à caça de trufas ou tonteiras pelas vinhas.

Veneza há uns anos limitou navios e impôs taxas, mas há outros exemplos onde a moda estraga aquilo que a cria. Irónico. A acção do governo francês tem como instrumento as redes sociais e os influencers, para que com imagens desencorajem pessoas das visitas.

E daqui comento o segundo tema, a nova lei para quem faz vida a influenciar redes sociais. Torna-se obrigatório avisar quando há fotografias retocadas e torna-se proibido promover apostas online ou até mesmo cirurgias estéticas.

Pretendem a protecção do consumidor, em especial os mais jovens pela crescente preocupação com burlas. Dir-se-ia que a geração mais qualificada de sempre (oiço isto desde que tenho 25 anos…), não seria capaz de sucumbir a fake news ou charlatões, mas pelos vistos são precisos mecanismos acrescidos.

A lei tem ainda a responsabilização dos criadores digitais de conteúdos, e institui penalidades, (multas até aos 300 mil euros e 2 anos de prisão).

Há uma ideia criada de que o digital tem uma neutralidade associada, mas os dados são mais uma forma de poder, e seja para limitar turismo ou evitar esquemas com criptomedas, estas leis são bem-vindas.

Há demasiado faroeste digital programável em laboratório. Os problemas estruturais do mundo físico são replicados online. Se temos racismo nas ruas, haverá racismo nas redes. Se temos adições na vida, os interesses estarão refletidos no online. Se nos vendem paraísos turísticos instagramáveis, vale tudo pela foto do momento. Sei sempre qual é o destino da moda, basta consultar 3 ou 4 famosos para saber o que vendem.

Falar sobre isto é também uma forma de alerta e de consciência sobre o mundo que importa proteger, que não é só património. Et voilá.