Opinião

Voluntariado humanamente sustentável

8 mar 2018 00:00

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, voluntário é aquele “que faz parte de uma corporação por mera vontade e sem interesse”.

Esta definição ajuda-nos a perceber a forma como o voluntariado foi sendo encarado desde sempre. Era algo que se tinha que fazer sem qualquer interesse por trás.

Talvez por isso se tenha massificado a ideia de que o voluntariado por vezes é uma obrigação (para com os outros ou para com nós próprios) ou um dever. Isso leva a que o voluntariado surja na cabeça da maioria dos jovens como um momento em que, por uma boa causa, vão fazer uma tarefa que pode não lhes interessar para a vida futura como vender bolinhos ou rifas, servir à mesa ou cozinhar.

Raramente, o voluntariado é encarado como um investimento nas nossas capacidades e características profissionais. Acredito que o voluntariado a que todos estamos habituados tem pouca sustentabilidade humana e esse é o grande motivo para haver tanta rotatividade nos voluntários, o que habitualmente coloca em risco as organizações que deles dependem.

Mesmo que seja ao serviço de uma causa que as pessoas adoram, respeitam e identificam como decisiva, elas fartam-se de fazer gratuitamente tarefas que não adoram. Faz parte da natureza da maioria de nós.

Na ***Asteriscos, aquilo que propomos é a introdução da sustentabilidade no voluntariado (chamemos-lhe o voluntariado humanamente sustentável). O desafio está em como tornar o voluntariado sustentável.

Acredito, e as experiências associativas que tenho tido em movimentos sociais ou em partidos mostram-me, que enquanto as pessoas se divertirem a fazer voluntariado a probabilidade de se cansarem do mesmo é baixa. Por isso, a solução parece simples: não tentar colocar voluntários a fazer tarefas que não correspondem à sua vocação (para isso já lhes basta o que por vezes têm que fazer nos seus empregos).

Claro que isso gera alguns problemas, mas ninguém disse que o mundo do voluntariado é fácil. Haverá algumas tarefas dentro de uma organização que têm que ser feitas, mas que não são vocação de nenhum dos voluntários da nossa equipa.

De forma a mantermos o nosso princípio de sustentabilidade humana intacto aqui só há dois caminhos: ou se paga a alguém para fazer certa tarefa que ninguém quer ou se recruta para voluntário alguém com esse perfil para essa função. Idealmente preferimos a segunda. 

*Presidente da ***Asteriscos