Editorial

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30 set 2021 00:13

Temos já bons exemplos de cidadania activa, com a criação de alternativas à bipolarização

Há 32 anos, a presidência da Câmara Municipal de Castanheira de Pera decidiu-se por um voto.

Era então candidato pelo PSD o antigo árbitro internacional de futebol, Graça Oliva.

Uma cruzinha a mais garantiu-lhe a vitória numérica nas eleições e uma vitória política, ao destronar o PS da cadeira do poder.

No passado domingo, Luís Graça Oliva, filho de Graça Oliva, encabeçou, ele próprio, uma lista de independentes, depois do seu nome ter sido proposto para candidato do PSD pelas estruturas concelhias e rejeitado pelas estruturas nacionais.

Em cima da hora, Oliva constituiu a sua equipa e conseguiu garantir um lugar no executivo municipal.

Numa câmara sem maioria, ele pode ser a chave para a estabilidade governativa. E não é caso único.

Há pelo menos mais quatro municípios no distrito de Leiria (Caldas da Rainha, Figueiró dos Vinhos, Marinha Grande e Peniche), onde os eleitos vão ter que chegar a entendimento para fazer passar algumas decisões.

Se isso é bom é mau, vai depender do grau de compromisso de cada um com o sentido de interesse público.

As eleições autárquicas do passado domingo podem motivar leituras várias. E quase todas serão motivo de reflexão.

Quanto a factos, registaram-se cinco mudanças de cor política em toda a região; a liderança de três municípios foi entregue pela primeira vez a movimentos de independentes; o centro-direita e a esquerda tiveram menos votos; os socialistas (com a capital de distrito dada como garantida) deram o tudo por tudo para conquistar ou manter autarquias emblemáticas, como as Caldas da Rainha, Porto de Mós, Pedrógão Grande e Marinha Grande, sem sucesso; os sociais-democratas perderam demasiado tempo a gerir os conflitos internos e a reagir à imposição nacional de alguns dos candidatos.

Em Leiria, Gonçalo Lopes garantiu ao PS a primeira eleição de um militante para a câmara municipal, mas sem superar os resultados alcançados em 2017.

Num cenário em que se adivinhava a dispersão de votos face ao recorde de nove candidatos, Álvaro Madureira conseguiu manter os três mandatos no executivo municipal, mesmo averbando a terceira derrota consecutiva, duas delas enquanto cabeça de lista.

Na região, o destaque vai para os grupos de cidadãos que conquistaram três novas câmaras (Batalha, Caldas da Rainha e Marinha Grande) e mantiveram a que haviam conquistado há quatro anos (Peniche).

Se a isto juntarmos as vitórias alcançadas por independentes nas candidaturas às juntas de freguesia, facilmente se percebe que nem só de partidos e de abstenção vive a nossa democracia.

Temos já bons exemplos de cidadania activa, com a criação de alternativas à bipolarização. E o caminho faz-se … caminhando!

E o caminho faz-se … caminhando!