Entrevista

António Poças: "Confunde-se acesso a financiamento com capitalização das empresas"

24 dez 2021 09:30

Presidente da Nerlei reconhece que a capitalização das empresas não é da responsabilidade do Estado, mas defende que este pode ajudar com medidas adequadas

Empresário foi reeleito para segundo mandato
Ricardo Graça
Raquel de Sousa Silva

Quais as prioridades para o novo mandato?
Descarbonização e capitalização das empresas. Esta, nomeadamente, já estava no Plano Estratégico. A descarbonização também, mas enquanto custo energético. Já houve uma reunião da nova direcção para se analisar o documento e foram reforçados estes dois aspectos, por se entender que deviam estar com mais força. Porque a descarbonização da economia é muito mais complexa e abrangente do que o custo da energia. Estes podem existir sem haver descarbonização, como estamos a ver.

A capitalização também tem sido largamente discutida…
É um tema antigo. Normalmente confunde-se acesso a financiamento com capitalização das empresas. Se há uma medida apoiada pela Garval onde é possível ir buscar dinheiro para a empresa, não se está a capitalizar, está-se a endividar a empresa. Essas medidas são importantes porque ainda há empresas sem acesso a crédito. Mas a verdade é que hoje não há falta de dinheiro. Pode não chegar onde deve, mas não falta. As moratórias, que são crédito, são um problema para as empresas, que tem de ser resolvido. Mas é um problema de crédito. Se falamos em capitalização, estamos a falar de ajudar as empresas a terem capitais próprios mais robustos.

Nessa matéria têm faltado medidas?
Temos tido na Nerlei algumas iniciativas, mas queremos fazer outras que possam dar mais resultados. Não queremos colocar um assunto no Plano Estratégico e depois dizer que cumprimos porque fizemos três eventos. O que queremos é procurar soluções e daqui a três anos poder dizer que houve 50 empresas que beneficiaram dessas soluções. É verdade que a capitalização das empresas não é da responsabilidade do Estado, é da responsabilidade dos empresários. O Estado pode fazer algumas coisas, por exemplo com políticas públicas para que os lucros sejam reinvestidos ou com estabilidade legislativa que incentive o investimento. É também importante diversificar a oferta de financiamento, muito centrada no crédito bancário.

Os custos da energia, das matérias-primas, dos transportes e da logística continuam a subir, com impactos na actividade das empresas…
Brutalmente. O drama é que este não é um assunto que a Nerlei consiga resolver, ou mesmo que Portugal sozinho consiga. Tem de ter resposta a nível europeu. No que se refere aos custos da energia e das matérias-primas, a Europa pode ter uma palavra a dizer. Nos custos logísticos e dos transportes internacionais é mais difícil, mas poderá fazer mais do que Portugal sozinho. Este é o momento decisivo para a Europa. Nunca os países precisaram tanto da Europa como agora.

As empresas estão a suportar este aumento de custos, mas em última instância o consumidor final irá pagar mais caro pelos produtos…
Depende dos produtos, depende do peso do comprador. Na grande distribuição os preços não aumentaram, esta consegue sempre ‘esmagar’ os fornecedores, são estes que estão a aguentar tudo. Mas claro que há empresas que têm conseguido fazer repercutir os aumentos. O que tem acontecido é que as empresas têm tentado obter ganhos de eficiência noutras áreas. Têm de baixar uns custos para suportar o aumento de outros. Mas o problema é dramático para muitas empresas. O preço dos contentores marítimos está uma loucura. E a verdade é que não há racionalidade e

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