Entrevista

D. José Ornelas: "O preço de deixar pessoas para trás é muito grande para a sociedade”

24 dez 2020 12:00

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, bispo de Setúbal, fala dos riscos de termos uma sociedade onde uns ocupam “a casa toda e outros ficam num buraco”. Aborda o populismo, o machismo na Igreja e o celibato, que diz não ser “o único caminho”.

Maria Anabela Silva

Este é, seguramente, um Natal diferente, por força da pandemia. Que adaptações fará a Igreja?
Este é sempre um tempo muito especial. Este ano, é um especial condicionado à realidade, mas na Igreja já estamos adaptados. Desde que terminou o grande confinamento inicial, encontrámos modos seguros de realizar as nossas celebrações. Haveremos de voltar a fazê-lo de forma muito mais tranquila e sem todos estes cuidados, mas, por agora, eles fazem parte da realidade da nossa vida. A liturgia não podia ser diferente. Não estamos a fazer nada de extraordinário se não adaptar as celebrações às necessidades profiláticas e à nossa responsabilidade.

Como avalia a resposta que a Igreja tem dado à crise pandémica?
A reacção tem sido dentro do que é o dever da Igreja. Primeiro, a responsabilidade perante uma situação que é dramática em todo o mundo. A reacção de nos defendermos e de cuidarmos uns dos outros. Depois, dentro desta realidade, inserimos a nossa fé e as nossas celebrações. Do ponto vista da vida interna da Igreja, foi necessário encontrar soluções para que, por exemplo, as crianças pudessem continuar a catequese e para que os jovens tivessem a ocasião de crescer na fé. Procurar alternativas exige criatividade. Socorremo-nos de todos os meios de comunicação e muitos jovens estiverem presentes nesse processo. Foi também necessário encontrar novas formas de acolher, com espaços e ambientes adequados para celebrar em segurança e, ao mesmo tempo, com interiorização

Essa necessidade de acudir aos outros surge num contexto em que as paróquias e as instituições da Igreja se debatem também com dificuldades por via da diminuição de receitas.
É verdade. Não é só o Orçamento do Estado que conhece as limitações e os desafios do momento presente. As nossas comunidades e as famílias estão em grandes dificuldades. Mas vamos ultrapassá-las. É interessante ver como as pessoas entenderam isso, procurando, cada um segundo as suas possibilidades, participar na solução dos problemas com que nos vamos deparando.

Como se explica a um católico que não pode, por exemplo, estar presente numa peregrinação em Fátima, mas que, como cidadão, pode participar em iniciativas políticas, manifestações ou eventos desportivos?
O que importa não é saber quem ganha mais ou quem tem mais influência, mas sim apoiarmo-nos uns aos outros e encontrarmos caminhos de responsabilidade. É disso que se trata. Em causa está sempre a questão do cuidar. Quando se levantam essas polémicas, procura-se saber quem é que sai a ganhar e a perder. Se olharmos para essas contas, dá a ideia de que em algumas situaçõe

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