Está a exercer funções de curadoria e coordenação no festival Ronda, em Leiria, onde vai moderar uma conversa sobre o direito à poesia. Em que circunstâncias a poesia é um direito?
Nós partimos da ideia poesia é liberdade, depois pensámos no tema das novas liberdades. Não pretendemos uma poesia programática nem uma poesia de caderno de encargos. Pretendemos ver como a palavra da poesia, sendo uma palavra de liberdade, tem que ver com novas liberdades, com novas lutas: direitos da mulher, direitos das novas orientações sexuais, das minorias, inclusão. O direito à poesia é uma outra luta, é a luta para que a poesia chegue às pessoas, para que a poesia atinja públicos cada vez maiores. E isso parece-me que, além de ser um grande objectivo desta Ronda, na medida em que há toda esta dimensão comunitária e toda esta dimensão de a poesia estar na rua e se aliar a outras formas artísticas e espaços não habituais, é, de facto, um grande trabalho. O direito à poesia vai ser uma mesa redonda justamente sobre a necessidade de levar a poesia aos públicos, ao público jovem, às escolas, ao público em geral, e portanto, falar um pouco sobre o que está a obstaculizar o encontro das pessoas com a poesia.
O que é que os poetas têm para dizer à geração do Tik Tok e do Instagram?
As formas da poesia, que permitem uma grande síntese, e até formas extremamente breves, podem transmitir muito sinteticamente muita coisa, muitas ideias, muitos pensamentos, muitas emoções e muita ambiguidade, porque a poesia sobretudo levanta ambiguidades, põe em questão a linguagem, põe em questão as nossas certezas. A poesia, como forma sintética de linguagem, pode ter também uma transmissão através desses meios de comunicação, embora nada substitua uma coisa muito importante, que é a leitura. Primeiro, a leitura em voz alta. Ouvir os poemas, ouvir os poemas ditos, ouvir a música da poesia. Essa dimensão oral, essa dimensão dita, declamada, da poesia, é muito importante.
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