Entrevista

Paula Teles: “O automóvel foi o rei da mobilidade durante décadas”

8 out 2020 11:16

Paula Teles Especialista em mobilidade, frisa que é preciso definir políticas integradas que permitam reduzir a utilização do automóvel. E diz que as cidades têm de ser vistas como um “ginásio ao ar livre”

Raquel de Sousa Silva

A edição deste ano da Semana Europeia da Mobilidade teve como tema central Emissões Zero, Mobilidade para todos. Este é um objectivo utópico ou atingível?
Parece utópico, porque andamos há imenso tempo a falar em emissões zero e em mobilidade para todos e parece que continua tudo na mesma. Quando há 24 anos tive a minha filha percebi que não era possível andar na cidade com um carrinho de bebé. Na altura era engenheira de trânsito numa Câmara do Norte e vi que a minha missão só poderia ser eliminar barreiras urbanísticas e arquitectónicas. Ainda hoje, 50% do meu tempo é dedicado a promover cidades para todos.

O que são cidades para todos?
Falamos de cidades para pessoas com deficiência, mas também para crianças, para mães com carrinhos de bebés, idosos, pessoas que têm algumas limitações ou que tiveram um acidente. O importante de ver, e que é muito relevante, é que se somarmos a percentagem de pessoas que têm mobilidade reduzida estamos a falar de 60% da população. Se ignorarmos isto, estamos a projectar apenas para 40%. Quando se sai da universidade não se tem consciência de considerar estes grupos, que tendencialmente serão maiores.

De que forma a mobilidade pode contribuir para reduzir emissões?
Mais de um terço do dióxido de carbono libertado para a atmosfera advém dos transportes. Não se pode negligenciar a matéria da mobilidade. Não podemos continuar a não ter preocupações com o uso e abuso do automóvel. Foi ele que nas últimas décadas foi degradando a qualidade do ambiente. Há hoje cidades que estão engarrafadas durante horas, de manhã e à tarde. Tudo isto vem contribuir para problemas de saúde pública.

Como é que se incentivam as pessoas a usar transportes públicos se os horários e os percursos, na maior parte das vezes, não servem as necessidades?
É muito difícil. Todos falamos acertado, do ponto de vista conceptual, mas depois não se aplica nada. Na Europa há países que demonstram há muito tempo ter políticas muito assertivas nestas matérias. Mas nos países do Sul tem havido mais dificuldades, talvez pelo estilo de vida das populações, que não são tão dadas a regras. O que é preciso fazer? Tomar medidas políticas. Medidas técnicas há muito que estão referenciadas. Apontam a necessidade de inverter esta tendência excessiva de andar de automóvel. Há que perceber que 60% das deslocações são feitas para menos de três quilómetros. Para esta distância, deve-se andar a pé. Ou a pé e de transportes públicos ou de bicicle

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