Entrevista
Reinaldo Sousa Santos: “A felicidade no trabalho não é como ir a Fátima a pé”
9 jul 2021 15:08
O autor do livro "Ser Feliz no Trabalho", deixa conselhos a trabalhadores e a gestores sobre como tornar os colaboradores mais empenhados
O autor do livro "Ser Feliz no Trabalho" é feliz no trabalho?
Tenho dias, mas este livro tenta, no fundo, alertar para o que é ser-se feliz. Não é um conjunto de situa- ções onde estamos sempre alegres e contentes. Quando se fala em felicidade no trabalho e aparecem muitos sorrisos, fico incomodado. Se perguntar a alguém qual foi o momento onde foi mais feliz no trabalho, provavelmente, não irá apontar uma situação de grande alegria. Será um momento partilhado com alguém ou quando alcançou uma coisa importante. A felicidade será a concretização de alguns objectivos importantes na nossa vida e não uma sucessão de galhofas.
Ainda há quem pense que, para se ser feliz no local de trabalho, basta ganhar bem?
Há. No meu livro, refiro um episódio curioso, passado em 2011, durante a crise, com as pessoas a perderem parte dos salários, quando fui a um centro operacional da empresa onde eu estava e disse que não podíamos aumentar ninguém, mas que as pessoas deveriam manter-se motivadas e contentes. Um operário, lá do fundo, levantou um dedo e disse: “não esqueça que, se 'não há dinheiro, não há amor'”. Nessa empresa, não pudémos aumentar os salários, durante dois anos, no entanto, conseguimos melhorar a nossa posi- ção nos rankings das melhores empresas para trabalhar, porque as pessoas gostavam daquilo que faziam, tinham bom ambiente e isso fez a diferença. As pessoas preocupam-se muito com dinheiro, mas isso não quer dizer que ele motive. Costuma-se dizer até que, o que motiva não é ser-se aumentado é a "expectativa de o ser”. Se souber que, no final do ano irei ter um aumento, eventualmente irei “pedalar”, mas, depois, como se diz no futebol, “já se fez o contrato e está-se mais calmo”
É a expectativa do progresso que motiva?
Sim, porque a felicidade também é isso. É ter um objectivo e concretizá-lo. Há um provérbio chinês que diz que a felicidade é "ter alguém para amar, algo para fazer e algo por que esperar". Aí, tenho de concordar que as organizações, muitas vezes, não gerem as remunerações para fazerem as pessoas felizes. Não lhes dão nada por que esperar. Olhamos para as remunerações e o que vemos? Cada vez mais pessoas a receber o salário mínimo. Isso significa que a recompensa por estudar, pelo esforço e empenho, desapareceu. Que estímulos se está a dar às pessoas no local de trabalho? Nenhuns. Quando comecei a trabalhar, há 20 anos, era um jovem licenciado e comecei a ganhar 180 contos [900 euros]. Havia uma tabela, e todos os licenciados que entravam, ganhavam isso. Duas décadas depois, o grupo está a admitir licenciados por 850 euros. Não se pode desvalorizar a remuneração salarial do projecto de felicidade, quando 20 anos depois se paga menos a pessoas que, eventualmente, são muito mais qualificadas, mais motivadas e muito mais frustradas, por causa da situação actual. Falo com gestores e empresários que dizem que fazem mais coisas hoje para motivar, mas que as pessoas não estão mais satisfeitas. Porque elas são muito diferentes do que eram! Têm mais qualificações, conhecem e querem mais coisas. Querem participar, têm opinião, querem influenciar, chegar a casa e contar histórias sobre o trabalho. E não podem. Ouvimos, muitas vezes, a conversa de que é "importante atrair talentos" e que "as pessoas são a parte mais importante da nossa organização e temos de as estimar". Porém, isso só faz sentido se lhes dermos espaço para contribuírem. Se eu contratar os melhores e depois lhes disser "só fazes aquilo que te digo", "cala-te, não quero que penses", forma-se a ideia de que, dentro da empresa, há um que é o "esperto", que decide o trabalho, e que os outros têm de o concretizar. Isso não de adequa aos tempos actuais. Não se pode ter uma cultura de diferenciação e de inovação, quando se diz às pessoas que devem estar caladas. Há gestores que, por vezes, dizem que "eles est&atild
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