Entrevista

Ricardo Pocinho: “É inevitável que a reforma suba para mais de 70 anos ”

21 out 2021 14:32

O presidente da Associação Nacional de Gerontologia Social e docente na ESECS considera que a idade da reforma vai chegar aos 70 anos, mas defende que cada pessoa se aposente na altura que me-lhor lhe convier

"Temos falta de pessoas em idade activa e, portanto, há necessidade de institucionalizar os pais porque não podemos cuidar deles"
Ricardo Graça

Leia a entrevista integral a Ricardo Pocinho

Portugal trata bem os seus idosos?
Tem dias. Temos uma conjuntura actual que não é muito favorável ao envelhecimento em Portugal, pese embora o facto de sermos um País com uma estrutura e características únicas para se envelhecer. Temos em Portugal centenas de pessoas, arriscaria a dizer milhares, que procuram o nosso País para envelhecer, sobretudo nas regiões do interior - trazendo dinâmica populacional - na franja litoral, sobretudo do Algarve, por conta do clima que vivencia todo ano. No entanto, se hoje alguma condição nos deve mover para este não bom trato para com os idosos, deve ser uma antecipação clara daquilo que pode acontecer a curto espaço de tempo. Temos hoje uma cobertura generalizada, diria até de excelente qualidade, salvo algumas excepções, de estruturas. As pessoas que cuidam de idosos estão muito motivadas para o fazer e começam a estar melhor preparadas. Temos um desfasamento daquilo que era a nossa cultura de cuidador. Tínhamos a mulher no centro do cuidado e passamos para um período de máxima institucionalização por conta de vários factores: nos primeiros anos, a seguir ao 25 de Abril, pelo facto de às mulheres ser dada a liberdade de trabalhar e de optar por essa condição económica de vida da família, hoje por uma necessidade inequívoca do Estado. Temos falta de pessoas em idade activa e, portanto, há necessidade de institucionalizar os pais porque não podemos cuidar deles. Depois também por alguns desequilíbrios demográficos que foram acontecendo. Hoje as pessoas são pais, cada vez, mais velhos e têm crianças em idade com muita necessidade de acompanhamento, na idade que têm os pais velhos. A opção de se optar por cuidar dos filhos e aos pais requerer quem cuide deles, é adequada. O que devia preocupar todos no futuro é a sustentabilidade destas organizações. O Estado comparticipa as IPSS com cerca de 40% do valor absoluto do custo médio de uma cama, que hoje ronda os 1.026 euros. Quem paga o resto são as famílias, porque ainda temos muitas pessoas com pensões ao nível de 300 euros ou um pouco mais do que isso. Se hoje temos de estar preocupados com aquilo que é o envelhecimento, daqui por dez anos a nossa preocupação terá de ser maior e daqui por 20 ou mais anos poderemos estar até numa situação de não conseguir corrigir nada. Temos uma tendência global para falar de taxas de natalidade como forma de resolver o problema. Efectivamente, o problema começa por se resolver aí, mas são precisos 18 anos e mais nove meses de gestação para se resolver, porque é quando as pessoas podem começar a trabalhar.

É por isso que é necessário aumentar a idade da reforma?
Aqueles que acham que 67 anos é muito tempo a trabalhar e tardiamente para a reforma, diria que é inevitável que a reforma suba para mais de 70 anos em Portugal. Hoje, Portugal vive com um problema de necessidade de mão-de-obra e se tem condições físicas, geográficas, de clima, de cultura, de gastronomia, de tudo o que as pessoas adoram quando nos vêm visitar, muitos são os que não se querem cá fixar, porque é um País com uma massa salarial baixíssima e com um custo de vida extraordinariamente caro. Basta olharmos para este sufoco dos combustíveis que são taxados em Portugal como um produto de luxo, quando são bens de primeira necessidade. A maioria das pessoas necessita de um automóvel movido a gasolina, porque as soluções alternativas que existem não são para a bolsa do comum dos mortais.

Que respostas existem para o envelhecimento activo?
O envelhecimento activo é a prática de uma actividade que traga felicidade e satisfação à pessoa. Podem ser aulas de natação, aprender um instrumento ou bordados, literatura, pintura e até viajar. A actividade tem de permitir um estímulo e uma manutenção do nosso cuidado cognitivo e do papel social. O encontro é entre pessoas e isto qualquer actividade serve. É tempo de todas as associações se juntarem à volta de uma mesma discussão, coordenados pela autarquia, que é o governo local. Esta responsabilidade das autarquias é até maior, porque são as financiadoras da maioria destas instituições e têm os meios. Por outro lado, há que aproveitar e potenciar as relações interageracionais. Os mais novos têm muito a ensinar aos mais velhos e os mais velhos têm a ensinar aos mais novos um valor fundamental: o respeito pelo próximo.

Há menos possibilidade de cuidar dos idosos, mas o papel do cuidador informal também continua a ser pouco reconhecido. Porquê?
Os cuidadores informais é um estatuto que, pese embora ter reconhecimento, não é reconhecido. Temos de ter consciência que há coisas demasiado sérias para serem levadas para a dimensão da política partidária. Há necessidade de repensar o papel do ser hu

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