Um ano de Covid-19. Qual foi o impacto da pandemia no ensino dos alunos?
O verdadeiro impacto nas aprendizagens vamos vê-lo nos próximos anos, mas acredito que não é assim tão significativo. Neste segundo confinamento já tínhamos um know how acrescido na forma como lidar com o ensino não presencial. Em casos pontuais até poderá ocorrer maior sucesso. Tenho reporte de alunos que no ensino não presencial têm um comportamento mais colaborante e participativo do que na turma. Há alunos mais inibidos que no contexto do grupo têm dificuldade em expressar a sua opinião. Em casa, num ambiente mais protegido, conseguem expressá-la.
Perderam-se aprendizagens no primeiro confinamento?
Naquele primeiro confinamento, as coisas foram feitas de uma forma muito abrupta e não podemos esquecer, sobretudo este agrupamento que é um TEIP [Territórios Educativos de Intervenção Prioritária], que há famílias com condições sócio-económicas muito frágeis e nem todos os alunos estiveram logo aptos a acompanhar. O agrupamento e os professores foram incansáveis para aqueles alunos que não tinham computador: imprimíamos todas as fichas que os encarregados de educação vinham buscar, mas não têm o professor em permanência. Houve uma necessidade grande de reforçar as aprendizagens e os conteúdos que tinham ficado menos bem sedimentados.
Como foi este arranque do 1.º ciclo?
Confirma-se que as crianças estavam desejosas de voltar à escola. Há relatos muito engraçados do primeiro dia, com excelentes comportamentos, porque há vontade de ver os amigos. No dia a seguir, os conflitos naturais que sempre existiram, e vão continuar a existir, retomam. É interessante perceber que o afastamento gera a necessidade de proximidade, mas em proximidade começam as situações de conflito.
E mesmo esses conflitos fazem falta ao crescimento.
Fazem muita falta. Crescemos a medir-nos uns com os outros. Estar em casa protegidos não nos expõe tanto. Quando estamos em presença a partilhar o mesmo espaço físico, a disputar uma brincadeira, ajuda-nos a posicionar. Há uma necessidade enorme das crianças estarem nas escolas precisamente porque têm maior consciência de si próprias quando estão em grupo. Não nos podemos esquecer de que somos seres sociais.
As crianças do 1.º ciclo registam um maior atraso das aprendizagens?
É verdade que para o princípio da escolaridade é um desafio extraordinário não ter o professor ali ao pé. É natural que, mesmo com o acompanhamento dos pais - e ele foi excelente -, não seja a mesma coisa. Nesta retoma, uma das colegas disse-me que nos primeiros dias os miúdos chegaram mais inseguros, sobretudo os mais novos, porque estão muito dependentes do pai, da mãe, da tia… que lhes vai segredando quando o professor está online. Mas se há uma coisa fantástica nisto é a capacidade extraordinária de adaptação das crianças. Elas adaptam- -se com muito maior facilidade do que nós pensamos. Nós, professores e pais, somos muito ansiosos, pensamos que isto vai ser uma coisa extraordinariamente penalizadora para eles. Não é e até acho que estas situações, embora indesejadas, os preparam extraordinariamente para a vida. A vida é feita de imprevistos e eles estão muito capacitados. É extraordinário ver o nível de autonomia das nossas crianças, em ligar um equipamento, aceder a uma videoconferência e a partilhar um conteúdo. Isto era inimaginável há um ou dois anos. O mesmo se passa com os professores. Marcar uma reunião online era um desafio só para alguns. Hoje é perfeitamente natural. Há sempre um lado positivo no meio desta situação dramática. Capacitou-nos e deu-nos possibilidade de experimentar novas metodologias.
Qual tem sido o maior desafio para os directores das escolas?
A gestão da ansiedade. Temos de lidar com o medo das famílias e dos professores. Tenho uma média de idades bastante avançada nos meus professores, o que torna justificável um maior receio. Há o medo de estar em presença, de vir para a sala de aula e os pais com medo de trazer as crianças. Escolas de risco zero não existem. Gerir essas expectativas é muito difícil. Se temos professores m
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