Vítor Ferreira, professor adjunto do Politécnico de Leiria e professor convidado do ISCTE, é doutorado em Empreendedorismo e Inovação pela Universidade de Lisboa (ISEG) e trabalha ainda como consultor e investigador. É o director geral da Startup Leiria, incubadora e aceleradora, onde coordena um ecossistema que acolhe actualmente 106 empresas, das quais mais de 20 são estrangeiras. Representam mais de mil trabalhadores (não necessariamente colocados em Leiria) e mais de 55 milhões de euros de facturação anual. Há actualmente três espaços geridos pela Startup Leiria, localizados no primeiro piso do Mercado Municipal (no espaço Leiria Economia, recentemente inaugurado), nos Parceiros (antiga IDD) e no pólo de inovação social junto ao Hospital de Santo André.
Existem condições em Leiria para o aparecimento de uma empresa unicórnio?
Em potência, já temos, quem sabe, futuras unicórnios entre nós. A Lovys, que é uma insurtech, já angariou 20 ou 30 milhões de euros, o que dá uma avaliação muito grande, e a Sound Particles. A maior parte de nós usa dois ou três bancos. Com os seguros vai acontecer o mesmo, vão sobrar duas ou três novas companhias de seguros. Se a Lovys for uma dessas duas ou três que sobram, provavelmente vai ser o primeiro unicórnio de Leiria. Estes exemplos mostram que dos Parceiros ou aqui do Mercado [ambas instalações da Startup Leiria] pode nascer um negócio como a Sound Particles e fazer software para Hollywood. Ou uma empresa como a Xgeeks, que acabou por crescer bastante. Temos o capital humano, temos as condições físicas e temos cada vez mais investimento.
Há um caminho a percorrer em termos de investimento público e privado?
O público, normalmente, tem pouca intervenção neste tipo de negócios. O privado, em Portugal, aumentou nos últimos anos cerca de dez vezes o investimento em capital de risco, o que é extraordinário. Ainda assim, fica muito aquém do que é a realidade dos sistemas de investimento de risco nos outros países, sobretudo nas inglaterras desta vida e no norte da Europa. E a maior parte dos investidores está concentrada em Lisboa e no Porto. Aqui, em Leiria, as pessoas que têm dinheiro fazem investimentos mais tradicionais. Há um clube de business angels na Marinha Grande, que não investe muito, que eu saiba, e depois temos a Casper Ventures, do Paulo Gaspar, que tem alguns investimentos na área de capital de risco. De resto, o clássico é: quem tem uma fortuna acumulada, em Leiria, vai investir em mais indústria ou – o que é mais clássico ainda – em imobiliário.
Deviam colocar capital em novas tecnologias?
Sem dúvida. Em negócios de crescimento rápido, em negócios de risco. Sabemos que em dez, oito não vão ser grandes, a maior parte vai desaparecer, mas há uma Lovys, há uma Sound Particles.
Tipicamente, de que tipo de investimento os projectos precisam, em Leiria? E de que valores?
Numa fase pre-seed, temos um powerpoint e provavelmente pouco mais. Numa fase seed, já temos um produto mínimo viável, um protótipo, quem sabe algumas vendas e a empresa já foi constituída. Os tickets normais em Portugal (a entrada de montantes) para a fase pre-seed e seed são cerca de 100 a 300 mil euros por 10 a 20 por cento da empresa. E, obviamente, não há muitos malucos em Leiria que dêem 100 mil euros a uma pessoa que só tem um powerpoint, não é? É basicamente no powerpoint e na equipa que se investe naquele momento. Há outro tipo de empreendedores cujas ideias ou produtos mínimos viáveis não são tão escaláveis, o que quer dizer que não vão crescer tão rápido, e aí a luta é outra. Supostamente, até ao final de Outubro, o Governo devia lançar uma linha, que é o Empreende XXI, que vai dar até 170 mil euros, 50 por cento a fundo perdido, 50 por cento a juro zero. Os empreendedores vão ter de entrar com um montante muito reduzido de capital próprio, mas essa linha ainda não está activa. Pode resolver alguns daqueles negócios que não são tão atractivos para investidores anjo e sociedades de capital de risco.
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