A catedral ilustre, mas desconhecida
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A catedral ilustre, mas desconhecida
6 mai 2016 00:00
Uma viagem na Sé que não tem torre, com paragem na torre que não tem Sé.
Redacção
redaccao@jornaldeleiria.pt
Leiria para Totós é a informação que faltava, mas provavelmente nunca vais precisar. A cábula para quem julga que Rodrigues Lobo era o vilão da história dos Três Porquinhos. Nesta rubrica a Preguiça (aqui em colaboração com o Jornal de Leiria) recorda o nome esquecido na placa, o edifício em ruínas, a estátua coberta com lingerie na semana académica. É possível que estes textos venham a ser úteis, se algum dia existir a edição Leiria do Trivial Pursuit. Fora isso, não estamos a ver.
Além dos membros do clero, conhecem a Sé de Leiria os que estacionam à volta, os noivos e convidados dos noivos, os que bebem copos nocturnos na escadaria, os turistas e os crentes. Em qualquer caso, dificilmente se deixam impressionar pela catedral, que não podia ser mais simples e despojada. Depois, há outro grupo de pessoas, os alunos de arquitectura e história da arte, ou professores e investigadores, para quem este edifício com 457 anos é de estudo obrigatório – neste texto vamos explicar porquê, mas, primeiro, contamos a história da torre sineira, aquela que os leirienses imortalizaram em verso.
Diz a tradição que existiu na Sé de Leiria uma pequena torre para o culto, mas, porque os residentes no outro lado da cidade não escutavam os sinos, o bispo D. Miguel Bulhões e Sousa ordenou em 1770 a construção de uma nova estrutura, que hoje conhecemos, na encosta do Castelo. Daí o verso: "Leiria tem uma torre que não tem Sé e uma Sé que não tem torre".
Quanto à catedral, é "a primeira marca em Leiria de uma mentalidade moderna e a primeira vez que se aplicam em Leiria os valores do humanismo e do Renascimento", explica Marco Daniel Duarte, director da Comissão de Arte e Património Cultural na Diocese de Leiria-Fátima. É também um dos melhores exemplos portugueses de igrejas salão (hallenkirchen), a par dos mosteiros de Alcobaça e dos Jerónimos. Por isso, "não há nenhum estudante de arquitectura em Portugal que não tenha de estudar a Sé de Leiria", reforça Marco Daniel Duarte.
Se já lá entraram, sabem que o estilo é monótono, austero e depurado. Quase pobre e superficial. Na verdade, está em linha com a vanguarda na Europa à época e com as orientações do Concílio de Trento. E porquê? "Tem a ver com ir ao essencial das formas", com uma construção "que não esmaga o ser humano", sintetiza Marco Daniel Duarte. O bispo que idealiza a Sé de Leiria – D. Frei Brás de Barros, embora tenha sido o sucessor, D. Gaspar do Casal, a dinamizar a obra – tem ideias claras para o projecto. Por um lado valoriza a mensagem do cristianismo e a relação com os fiéis sem artifícios nem ornamentos, por outro, numa fase em que a dissidência protestante ataca alguns dogmas católicos, reafirma o papel da mulher nos evangelhos, com a representação da coroação da Virgem no retábulo do altar mor. "É um caso muito claro da arte a funcionar como transmissora e defensora da fé", diz Marco Daniel Duarte. As pinturas são de Simão Rodrigues, um dos mais reconhecidos artistas do seu tempo.
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