Sociedade

Areeiro do Falcão: uma cicatriz por sarar às portas de Leiria

14 dez 2018 00:00

Exploração de areia semi-abandonada e sem recuperação à vista.

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Maria Anabela Silva

Foi com “muita revolta” que Hélder Carreira assistiu ao esventrar da zona de floresta que, há 40 anos, existia em frente à sua casa, construída junto ao designado areeiro do Falcão, em Marrazes, Leiria.

Quatro décadas depois, a exploração de areia no local, a poucos quilómetros da cidade, abriu uma enorme cratera, hoje parcialmente abandonada e sem perspectiva de recuperação. Isto porque, como reconhece a Câmara, as entidades envolvidas no processo não têm conseguido notificar ou até mesmo identificar os proprietários dos terrenos, para que lhes possa ser imputada a requalificação.

“Sempre nos foi dito que, finda a exploração, ia haver recuperação. Não acredito. Está tudo ao abandono”, conta Hélder Carreira, recordando outras promessas não cumpridas, como a construção de um paredão para suster a barreira existente a poucos metros de sua casa.

A esse perigo, José Miguel Martins, residente na Gândara, acrescenta outros. Numa exposição enviada em Agosto ao ministro do Ambiente alertava para a falta de protecção em algumas zonas do perímetro do areeiro, deixando o local, onde existem lagoas “a céu aberto”, “acessível a qualquer indivíduo”.

Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, o morador denuncia a existência de “zonas com declives superiores a dez metros de acesso livre” e a “deposição de lixo nas áreas abandonadas”. Lamenta ainda que a exploração tenha “vedado o acesso à Fonte da Carvalho” e “ocupado a estrada original” do caminho entre a Gândara e os Pinheiros.

O presidente da Junta de Marrazes, Paulo Clemente, comunga das preocupações da população, sobretudo relacionadas com a “insegurança” e com a situação da estrada, mas alega que a autarquia “pouco pode fazer”, além de alertar as entidades responsáveis pelo licenciamento e pela fiscalização. “O que se passou foi uma exploração desmesurada e sem fiscalização”, reconhece, admitindo que “há zonas perigosas”.

Ao JORNAL DE LEIRIA, a Câmara adianta que na denominada zona do Falcão existem duas pedreiras de areia licenciadas, uma em 1992 e outra em 1983, e informa que em ambas “não existirá industria extractiva” desde 2012, o que não corresponderá à verdade no que se refere à exploração mais recente, onde se mantém alguma maquinaria. Numa deslocação ao local, efectuada na segunda-feira, o JORNAL DE LEIRIA detectou mesmo um camião carregado de inertes a sair do local.

 

Dificuldades
Proprietários não identificados

A Câmara alega que, ao longo dos anos, houve tentativas para notificar os proprietários para proceder ao “abandono adequado da pedreira, executando a apropriada recuperação paisagística”. No caso da pedreira “Moinho de vento”, mais a Norte, a empresa “estará em fase de dissolução e liquidação desde 2013” e “tornou-se impossível o contacto junto da mesma”.
Foi solicitado o apoio das Finanças para identificação dos proprietários, sem sucesso. Em 2014 a Câmara pediu, a colaboração da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional para encontrar uma solução, não tendo obtido resposta.
Na pedreira “Quinta da Carvalha”, “licenciada em 1983”, a Câmara recebeu, em 2010, “comunicações de três entidades que alegaram ser proprietárias e gestoras dos terrenos explorados”, o que inviabiliza “acometer ao respectivo proprietário a recuperação dos terrenos”, estando o caso em tribunal.
Numa zona a Norte do areeiro existe um pedido de licenciamento para uma unidade de recepção e tratamento de resíduos de construção e demolição.