Desporto
Bernardes Dinis: "A maior homenagem que me podiam fazer era este evento nunca acabar"
Tem 71 anos com a vitalidade de alguém com metade da idade. Esta sexta-feira vai estar aos comandos de mais uma edição da gala Rugidos de Leão, a 36.ª do palmarés.
Entre muitas histórias, muito fervor e uma paixão sem limites pelo Sporting, explica-nos como vive aquele que é o acontecimento do ano. Com ele, Ana Lagoa, Licínia Cadima, Carlos Santos, Carlos Vieira, Mário Rodrigues, Carlos Caseiro e Ernesto Ferreira da Silva, que dá uma “ajuda preciosa” desde Lisboa, tudo fazem para que nada falhe neste jantar que une 1.500 pessoas. Jorge Jesus, Gelson Martins, Bryan Ruiz, Caio Japa e a equipa feminina campeã europeia de atletismo serão os príncipes e as princesas da noite. O rei? Chama-se Bernardes Dinis.
Fica mais tenso a ver o Sporting a jogar ou durante os Rugidos de Leão?
Em tudo o que é Sporting, o sofrimento existe sempre. Tenho um enorme amor à minha família e depois uma paixão enormíssima pelo Sporting, que vai além da morte. Sei que onde estiver um pedaço do meu corpo e da minha alma o Sporting também estará. Agora, é evidente que quando chegam os Rugidos de Leão tenho uma sobrecarga enorme de tensão. As pessoas dizem que o Dinis já está calejado, já anda nisto há 36 anos e tem maturidade suficiente para não andar tenso, mas quando somos responsáveis, cada evento tem uma responsabilidade renovada e é essa responsabilidade que me fascina, mas também me cria um nervosismo latente.
Como assim?
Este evento chegou aos 36 anos e digo que os Rugidos de Leão são o testemunho e um autêntico hino de louvor à grandeza perene do Sporting. Não há nenhum clube do País que tenha um evento desta dimensão. Por norma, deito-me às oito da noite e levanto-me às cinco da manhã. A partir de Agosto, com o aproximar dos Rugidos, acordo às três da manhã e já não consigo dormir. Vou para a sala tomar apontamentos: é preciso ligar para a, b e c, é preciso tratar disto e daquilo, para ter a certeza que da minha parte não falha nada.
Frui o evento ou anda stressado?
O stress já faz parte da minha personalidade. Admito que não tenho paciência para pessoas pacientes. Aquele dia é o mais stressante para mim e fico abismado como tenho tido tanta capacidade para controlar todas as minhas emoções. Quando se faz um evento destes, com 1.500 pessoas e um fervor imenso, também se apanham algumas desilusões. E eu apanhei-as de algumas pessoas das comissões. Por isso é que me admiro com a capacidade de sofrimento para resistir a tanta coisa. Como vê um homem de 71 anos que nunca esteve doente e tem este stress todo? É quase inacreditável! O dia do evento encanta-me, fascina-me, é um dia de vitalidade leonina e temos histórias incríveis.
Ofende-o quem diz que a festa é feita para dar lucro?
Claro! O evento tem, desde a primeira edição, dois objectivos: dignificar o ideal sportinguista e não dar prejuízo. Não tem de dar lucro, agora não pode é dar prejuízo. Temos despesas de organização à volta de 50 mil euros. Devo muito ao meu amigo João Gomes, um grande sportinguista, porque nós não temos receitas nem fundos para pagar a um artista com a dimensão do Fernando Pereira, um artista de nível mundial. Estou-lhe eternamente grato. A maior homenagem que me podiam fazer era este evento nunca acabar. Deus queira que me engane, mas receio que isso aconteça.
Sente-se uma criança ao ver todas aquelas estrelas do Sporting juntas, muito por sua causa?
Senti-me uma criança de 12 anos quando recebi o galardão de sócio do ano do Sporting. Aquilo foi qualquer coisa de mágico e que não estava à espera. Da mesma maneira que em 1979 recebi o prémio Stromp e fiquei nas nuvens, porque era um lírico que só estava bem de flor na mão, com sentimentos puros e autênticos. Agora continuo a ser lírico, mas já não sou parvo. É claro que gosto de lá ver os galardoados, estão lá por mérito. Agora, onde eu gosto mais de ver os atletas do Sporting é no Museu. É lá que estão imortalizados os feitos deles.
Incomoda-o quando um galardoado muda para outro clube?
Nada. Em que sociedade é que vivemos? Numa sociedade de líricos como eu, ou numa sociedade vazia de valores em que o cifrão é que manda? Já lhe dei a resposta.
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.