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César Cardoso: “Dice of Tenors é um tributo a seis saxofonistas que me influenciaram”
Entrevista ao compositor e músico jazz sobre o seu mais recente disco, lançado no dia 17 de Abril
Qual é a grande razão do seu novo trabalho Dice of Tenors?
Este é o meu quarto disco. Os anteriores foram de temas originais, compostos e orquestrados por mim, porém, este Dice of Tenors foi escrito como um tributo a seis saxofonistas tenores que me influenciaram enquanto estudante. No álbum, tocamos seis standards de outros tantos saxofonistas tenores.
Quem são essas influências?
São os músicos Hank Mobley, Benny Golson, John Coltrane, Dexter Gordon, Sonny Rollins e Joe Hendersone. Escolhi um tema de cada um deles e fiz um arranjo específico para a formação de músicos que me acompanhou na gravação. Além disso, ainda compus dois originais, que também fazem parte do álbum.
O título do disco, Dice of Tenors, está ligado a esta escolha?
Sim. Tem que ver com isso. É um trocadinho interessante com o dado de jogar - "dice" -, com as suas seis faces e seis números. Acaba por ser uma espécie de simbologia.
Que influências reteve destes músicos durante a sua formação?
Enquanto estudante, e não só, tive de ouvir muitos destes saxofonistas para absorver e "beber da fonte", ou seja, para absorver informação deles. Transcrevi muitos solos da sua autoria, para conseguir aprender a linguagem do jazz. Os temas que escolhi para o Dice of Tenors são alguns dos que tive de trabalhar e transcrever os solos há anos. São composições que já conhecia bem e que estavam bastante batidas na minha cabeça, por tudo isso. São temas que são muito importantes para mim e que me ajudaram no meu percurso. Além disso, fiz alguns arranjos para a formação que me acompanhou e que é muito específica e diferente do que já fiz para trás.
Quem são os músicos que o acompanharam nesta formação?
É um grupo mais alargado do que nos outros discos, que foram gravados em quarteto ou quinteto. É um octeto com quatro sopros e quatro músicos de secção rítmica. Na prática, sou eu, César, no saxofone tenor e arranjos, o Jason Palmer, no trompete, o Miguel Zenón, no saxofone alto e que já tinha participado no meu último disco Interchange, e o Massimo Morganti, no trombone... Na secção rítmica, tenho o Jeffery Davis, no vibrafone, o Óscar Graça, no piano, o Demian Cabaud, no contrabaixo e que me acompanha desde o meu primeiro álbum, e Marcos Cavaleiro, na bateria, que é o baterista da Orquestra de Matosinhos. É uma formação especial na qual já tinha pensado, porque me obrigou a escrever de uma forma diferente daquilo que tinha feito anteriormente. Mesmo nos seis standards dos seis músicos que me influenciaram fiz uma abordagem nova, com técnicas novas, modelações, muitas polirritmias, arranjos... Na verdade, fiz um estudo grande na preparação do Dice of Tenors.
César Cardoso, 37 anos, é natural da Calvaria de Cima, concelho de Porto de Mós, e desde os 7 anos que se dedica à música.
Em 1995, entrou para a Escola de Música do Orfeão de Leiria (EMOL) e aí concluiu o 8.º grau do conservatório na classe de saxofone com o professor Alberto Roque, em 2003.
Entre 2004 e 2008, frequentou a Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, onde trabalhou com Jorge Reis e Pedro Moreira. Depois, ingressou na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo-se licenciado em Saxofone Jazz.
É membro do grupo de dixieland Desbundixie, é mentor e director artístico da Orquestra Jazz de Leiria. Em 2010 gravou o seu primeiro disco de originais, Half Step, e, cinco anos depois, lançou o seu álbum, Bottom Shelf.
Em 2016, escreveu e publicou Teoria do Jazz, primeiro livro em Português sobre a base teórica do Jazz, idealizado como manual de apoio para estudantes de Jazz.
Em 2018 lançou o seu terceiro álbum, Interchange.
Actualmente, é professor de saxofone, teoria, combo e Big Band na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, e docente de Saxofone Jazz, na Universidade de Évora.
Devido à pandemia de Covid-19, como se vai proceder ao lançamento?
No dia 17 de Abril, sexta-feira, o álbum vai estar disponível nas plataformas digitais. Estavam programados alguns concertos de apresentação, entre eles um, no Festival de Jazz do Barreiro, que foi, entretanto, cancelado. Estamos todos à espera de que as coisas voltem à normalidade.
E o disco físico? Onde pode ser adquirido?
Não consegui colocá-lo nas lojas da Fnac porque, devido ao coronavírus, estão a trabalhar a meio-gás ou mesmo encerradas. Neste momento, apenas através de pedidos do meu site cesarcardoso.com, é possível adquiri-lo.
Além de compositor e músico, é o director artístico da Orquestra de Jazz de Leiria. Tiveram de cancelar dois concertos a dois dias de acontecerem, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, devido à pandemia...
É verdade. Eram dois espectáculos em conjunto com o Miguel Araújo. Estavam esgotados e foi uma facada. Foi muito chato, pois tínhamos feito despesas, tínhamos uma enorme preparação, muitos ensaios e, de repente, tudo parou. À partida, foram adiados para o final do ano. Contudo, é difícil prever quanto tempo falta até voltarmos à normalidade.
Para os artistas é um tempo difícil.
Para os artistas este é um tempo extremamente difícil. Foi tudo cancelado. As artes, e a música, foram o primeiro sector a parar e será o último a retomar o trabalho. Infelizmente é sempre assim. Já na crise anterior testemunhámos isso.