Viver

Construtores e tocadores. Os guardiões que estão a reabilitar o cavaquinho no distrito de Leiria

26 jan 2023 11:45

As universidades seniores e outros grupos de terceira idade estão a contribuir para o ressurgimento do cavaquinho, que também atrai os mais jovens, desde logo, nas tunas académicas

O grupo "Os Farra" durante o concerto em Valado de Frades
O grupo "Os Farra" durante o concerto em Valado de Frades
Ricardo Graça
No distrito de Leiria, há dois construtores listados no inventário da Associação Museu Cavaquinho
No distrito de Leiria, há dois construtores listados no inventário da Associação Museu Cavaquinho
Ricardo Graça
Momentos antes da subida ao palco nas Festas de São Sebastião
Momentos antes da subida ao palco nas Festas de São Sebastião
Ricardo Graça
O maestro Bruno Santos lidera um grupo formado maioritariamente por seniores
O maestro Bruno Santos lidera um grupo formado maioritariamente por seniores
Ricardo Graça
A mais jovem tocadora e o maestro do Grupo de Cavaquinhos "Os Farra"
A mais jovem tocadora e o maestro do Grupo de Cavaquinhos "Os Farra"
Ricardo Graça

É um caso de revivalismo? “Penso que sim. Há muitas camadas jovens a aprender, há muitos grupos de tocadores”. Luís Eusébio conhece todos os segredos daquele que é, talvez, o mais democrático e popular dos instrumentos portugueses. Idealmente, a construção do cavaquinho exige, não só, talento e paciência, como também a melhor matéria-prima. “A madeira mais namorada é o pau santo do Brasil ou da Índia”, explica ao JORNAL DE LEIRIA. Por ser “mais densa” e porque “reflecte melhor o som”. Há duas técnicas de construção (a espanhola e a francesa) e os exemplares para uso profissional custam sempre acima de 600 euros. Os clientes mais comuns do Luthier d’Óbidos são, além dos músicos, os estudantes das tunas académicas e os reformados, que, geralmente, aprendem já depois da idade activa, por exemplo, nas universidades seniores.

Quando o público das Festas de São Sebastião, em Valado de Frades, recebe o Grupo de Cavaquinhos “Os Farra”, os lugares em palco são maioritariamente ocupados por cabelos grisalhos e entre os tocadores estão duas antigas professoras do ensino especial, ambas de 79 anos, que se iniciaram na música quando terminaram a carreira. “Há que preencher o espaço com coisas alegres”, comenta Maria Helena Mateus. “Fizemos um espectáculo há oito dias interessantíssimo na Biblioteca Municipal de Alcobaça, o projecto Portugal de Lés a Lés, em que tocámos canções do norte ao sul, incluindo ilhas”.

A socialização também as motiva. “Damo-nos todos muito bem”, assinala Mariana Antunes. Do mais velho, com 84 anos, à mais nova, de apenas 12 anos de idade. Miriam Serrazina frequenta aulas de piano e de flauta transversal na Academia de Alcobaça, gosta de ouvir Bárbara Tinoco, e, para ocupar o tempo, acompanha a mãe no colectivo “Os Farra”. Além dela, a mais jovem é Mariana Santos, actualmente numa pausa por estar a estudar em Coimbra, no ensino superior. Toca saxofone na Filarmónica de Porto de Mós, mas começou pelo cavaquinho, ainda na infância. Nos “Farra” tem contacto com “muitas músicas tradicionais”, que os amigos da mesma geração “não conhecem”. E valoriza os afectos. “É uma família, sou filha do maestro e a neta deles todos”.

Minutos antes da subida ao palco nas Festas de São Sebastião em Valado de Frades, a afinação de cada instrumento, um a um, numa mesa improvisada entre balcões de cerveja e de chouriças, cabe a Bruno Santos, pai de Mariana, o maestro responsável pelo aparecimento do grupo, que começou “por brincadeira”, lá em casa. Chegaram a ser 50, antes da pandemia, actualmente são 35 e ensaiam na Boavista, uma localidade da freguesia de Maiorga, entre Alcobaça e Aljubarrota. São sobretudo pessoas acima dos 60 anos. “Aprendendo três ou quatro acordes, para o acompanhamento, mesmo não sabendo música, eles já se sentem realizados”, comenta o maestro. O cavaquinho “é mais acessível” do que outros instrumentos, logo, proporciona “resultados mais rápidos”, segundo Bruno Santos. “No fim dos serviços [as actuações ao vivo] há sempre um petisco, eles adoram isto”. Também por causa das universidades seniores, o cavaquinho “está a ganhar muita força”.

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