Desporto

Nuno Santos tocou violino no cume da montanha mais alta da Europa ocidental

9 ago 2019 00:00

Após tocar violino enquanto surfava ondas gigantes na Nazaré, Nuno Santos decidiu agora fazê-lo nos 4.808 metros do Monte Branco, nos Alpes.

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Uma vez aventureiro, aventureiro para a vida toda. É assim Nuno Santos, aquele rapaz de Vestiaria, Alcobaça, cujas imagens a tocar violino enquanto surfava ondas gigantes fizeram manchetes em órgãos de comunicação social do mundo inteiro.

Mas como ele não gosta de desafiar apenas montanhas de água salgada, nos últimos dias esteve nos Alpes para escrever mais uma página do seu projecto pessoal. E o violino nos lugares mais improváveis tocou Amália Rodrigues no cume dos 4.808 metros de altura do Monte Branco.

Na base de todos os projectos de Nuno Santos está a amizade. E foi por isso que desafiou um dos melhores alpinistas do mundo para uma partilha de conhecimentos. Hélias Millerioux, sediado em Chamonix, dava-lhe a possibilidade de ascender à mais alta montanha dos Alpes e da União Europeia.

Em troca o violinista irá, a breve prazo, colocá-lo à frente de verdadeiras bombas nas maiores e mais temidas ondas do planeta, precisamente aquelas que rebentam na Praia do Norte, em frente ao promontório da Nazaré. Enfim, a casa de Nuno.

“Queria subir ao Monte Branco, mas nas condições que nem todo o dinheiro poderia comprar. Não conhecia o Hélias, mas resolvi desafiá-lo. Trocámos mensagens e rapidamente cresceu uma forte amizade. Ele faz surf, mas digamos que o nível de ondas dele é semelhante ao meu de montanhismo e vice-versa.”

É uma relação em que ambos ficam a ganhar, com a vantagem de que vão poder oferecer ao outro experiências com uma qualidade que não se compra. Só mesmo tendo o parceiro certo é que se vive uma aventura destas no seu esplendor.

Pelo caminho encontraram uma série de pontos em comum. Até o facto de ambos terem “ambições muito grandes” neste constante desafio da mãe natureza e até, do ponto de vista educativo, serem os dois mestres em Gestão Desportiva.

Mas, para eles, estas estórias são para ser verdadeiras aventuras e não vale tudo para poderem dizer, no fim, que o objectivo foi alcançado.

Com a possibilidade de efectuar o percurso com Hélias, que tem prevista uma expedição sem oxigénio ao K2, a segunda montanha mais alta do mundo, depois do Monte Evereste, a 8.614 metros de altitude, o português teve acesso a uma cultura única, “de enorme respeito pela montanha e à qual não se tem acesso em jornadas comerciais”.

“Partilhamos a ideia de que tem de ser feito com regras e ética. Não queremos que nos levem lá acima às cavalitas, não é o chegar pelo chegar que desejamos. É desfrutar o caminho, até as dificuldades do caminho, é o contacto com a natureza, é fruir a montanha hostil”, explica Nuno Santos.

Desafinado

Na verdade, o objectivo foi sempre poder tocar o instrumento e, para que tal fosse possível, teve de levá-lo “às costas” num percurso “muito técnico” e com alguns sustos pelo caminho.

“Não quero dizer que estorvava, porque também estava lá por causa dele, mas pronto, dificultava. Algumas vezes bateu nas rochas e tinha o medo acrescido de não poder deixá-lo cair. Um escorregão era o suficiente para ir lá para danificá-lo.”

Mas pronto, chegou ao cume do Monte branco, intacto. Na realidade, as alturas e as ondas “têm mais semelhanças do que diferenças”. “Há o mal da montanha, que tem que ver com a rarefacção do ar, e no mar também há os enjoos.” Curiosamente, até o violino sofreu com os efeitos da altitude.

Chegada a altura de tocar, desafinou. “Estive mais de dez minutos a afiná-lo e esqueci-me do diapasão lá em baixo. Cheio de frio, com um vendaval brutal que não dava descanso, lá consegui tocar. Foi na raça”, recorda.

Foram duas semanas nos Alpes, em que Nuno e Hélias ascenderam ainda aos 3.604 metros do pico Aiguille d’Entrèves onde, perante um americano e um inglês, do violino saiu o clássico Englishman in New York. Uma versão “muito vertical” do Fado Português foi tocada nos 3.192 metros do cume do Aiguille du Peigne, após a escalada de 600 metros verticais em rocha.

E pronto, após alguns sustos, mais um local improvável ficou definitivamente conquistado pelo violino de Nuno Santos. “Saí da minha zona de conforto e recordei-me do que era realmente ter medo. Agora percebo que muito mais do que objectivos qualitativos, mais importante do que chegar ao topo, é todo o processo que nos leva lá. Em tudo na vida, o caminho é o mais importante.”