Viver

O sonho começou há mais de 15 anos

24 out 2015 00:00

Nascido do sonho de um grupo de jovens, que queria matar a “fome de cultura” da população do concelho, o Conservatório de Música de Ourém e Fátima é hoje uma das maiores instituições do género do País

Fotos: Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

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Quando há cerca de 15 anos um grupo de jovens de Ourém, liderado por Alexandre de Sousa Rodrigues, começou a trabalhar no processo de constituição do Conservatório de Música de Ourém, estaria muito longe de imaginar a projecção que a instituição tem hoje.

Os números dão uma imagem dessa dimensão: mais de 1.100 alunos internos, que fazem as suas actividades artísticas no conservatório; cerca de 1.500 crianças, jovens e idosos abrangidos pelos projectos que a instituição desenvolve fora de portas; perto de 70 professores e quatro concelhos abrangidos pelo seu trabalho (Ourém, Batalha, Leiria e Porto de Mós).

Números que fazem do Conservatório de Música de Ourém e Fátima (CMOF) - actual designação – uma das maiores escolas de música do País e a maior do Médio Tejo, onde existe seis instituições do género, sendo que esta “tem mais alunos do que as outras cinco juntas”.

“Nem nos nossos melhores sonhos pensávamos que pudesse ser possível crescer desta maneira. O nosso crescimento é a prova de que a população do concelho tinha 'fome' de cultura”, admite Alexandre de Sousa Rodrigues, que preside à instituição desde a primeira hora.

Recuando uns anos, o dirigente conta que a ideia de criar o conservatório teve muito a ver com as dificuldades que sentiu para aprender música, “devido à falta de oferta formativa”. No seu caso, a opção foi inscrever-se no Conservatório Regional de Tomar, antes de ingressar na Escola Superior de Música de Lisboa, onde fez o curso de formação musical.

“O nosso sonho – meu e dos colegas que estavam comigo – era permitir que os jovens da nossa terra também tivessem oportunidade de estudar música.” Se bem o sonharam, melhor o fizeram. Ultrapassadas as burocracias, a instituição foi formalmente constituída em 2002. A partir daí, foi sempre a crescer.

De tal forma que, em 2007, receberam o convite da Câmara de Ourém, que “inicialmente não se mostrou muito disponível para colaborar” com a instituição, para passar também a estar presente em Fátima.

E, para concretizar esse projecto, o município abriu-lhes as portas do antigo Seminário dos Monfortinos, um espaço onde o CMOF investiu, ao longo dos anos, “mais de 400 mil euros” na melhoria das instalações.

O último investimento naquele edifício foi recentemente concluído, com o apoio de fundos provenientes do Proder (Programa de Desenvolvimento Rural), que permitiu substituir as janelas e adquirir mais um órgão de tubos, o sexto da instituição. “Esta é uma área onde temos feito uma grande aposta.

Promovemos, inclusive, um concurso nacional de órgão único no País, que traz à instituição personalidades de renome nesta área, para participarem no concurso ou integrarem o júri”, realça Alexandre de Sousa Rodrigues.

A par das obras em Fátima, o último ano lectivo trouxe também melhorias nas instalações em Ourém, onde foram investidos cerca de 80 mil euros na requalificação das salas. “Por força do alargamento da nossa área de acção a Porto de Mós e às freguesias de São Mamede, concelho da Batalha, e de Caranguejeira e Santa Catarina da Serra [município de Leiria] estamos, cada vez, mais centrados em Fátima”, explica o presidente da instituição.

Da música para outras artes
Além do alargamento da actividade aos munícipes vizinhos, através de protocolos com os agrupamentos de escolas em vigor há vários anos, o CMOF foi também, ao longo dos anos, a outras expressões artísticas como a dança (ballet clássico e dança contemporânea), o teatro, a pintura e o desenho.

Dentro da música, além das classes de instrumentos (piano, violino, viola d'arco, órgão, trompete, violoncelo, percussão, etc) e de canto, a instituição dispõe ainda de uma orquestra de sopros (Orquestra Orff), de um coro misto (Fátima Choros) e de um grupo de música de câmara.

Desenvolve também música para bebés, através do projecto Berço em Creche, e sessões de musicoterapia, quer na instituição quer em lares de idosos na freguesia de Fátima e arredores.

“Embora a nossa raiz seja a música, estamos, a pouco e pouco, a evoluir para um conservatório de artes”, nota Alexandre de Sousa Rodrigues, explicando que, alguns dos novos projectos surgiram por iniciativa da instituição. Outros, “por solicitação e proposta” vindas da comunidade.

E, por falar em evolução, o CMOF já está a trabalhar num novo projecto: a requalificação do designado grande auditório de Fátima, que funciona na antiga capela do Seminário dos Monfortinos. O projecto de arquitectura, já concluído, prevê a construção de um novo balcão, que permitirá mais do que duplicar o número de lugares sentados (dos actuais 350 para 750), e de um fosso de orquestra.

O presidente da instituição acredita que, dentro de “dois ou três anos”, possa haver condições para o início das obras, até porque só nessa altura é expectável que a Escola de Hotelaria de Fátima, também instalada no antigo seminário, possa libertar alguma área que agora ocupa, com a construção de um edifício próprio.

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