Economia
Produtores de leite desafiam cadeias de distribuição a pagar melhor
Associação de Alcobaça defende que preço pago a quem produz seja de pelo menos 50 cêntimos por quilo
Os produtores de leite portugueses, "que pagam os factores de produção ao mesmo nível dos restantes colegas europeus, receberam em Junho um preço médio de 38,2 cêntimos por quilo de leite produzido".
Foi “mais uma vez”, de acordo com a Associação de Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), sediada em Alcobaça, o “pior preço da Europa” e “a maior diferença de sempre” face a outros produtores europeus.
Em Julho registou-se em Portugal um aumento de dois cêntimos no preço pago ao produtor, “mas o preço médio da Europa também terá subido para 50,3 cêntimos e o preço do leite spot, no mercado livre entre indústrias chegou a 64 cêntimos/kg”, adianta a Aprolep em comunicado.
No início de Agosto, “foi comunicado à generalidade dos produtores um aumento de três cêntimos para Setembro, o que levará o preço médio em Portugal para 43 cêntimos”.
Mais recentemente, “foi comunicado aos produtores que fornecem a marca Pingo Doce uma actualização de oito cêntimos por quilo, o que lhes permitirá receber um valor superior a 50 cêntimos”.
Medida que a associação entende dever ser seguida por outras cadeias de distribuição.
“A Aprolep desafia desde já todos os restantes compradores a subir de forma imediata o preço do leite ao produtor para atingir um valor médio de 50 cêntimos/kg de leite em Portugal”, sublinha no comunicado divulgado esta segunda-feira.
Segundo a associação de Alcobaça, “a actualização do preço do leite em Portugal, nos últimos anos, veio sempre tarde, abaixo dos custos de produção, abaixo do mercado europeu e sempre em reacção ao aumento do preço de outros compradores ou à procura de compradores espanhóis”.
“Os resultados são o desânimo dos produtores, o encerramento de vacarias todas as semanas, o aumento do número de animais para abate por falta de alimento ou de dinheiro para os comprar e a venda de leite directamente dos produtores portugueses para compradores espanhóis, à medida que terminam os contratos anteriores”, explica a Aprolep.
A associação sublinha que “o preço do leite tem de deixar de ser arma de arremesso na guerra pela quota de mercado entre os vários supermercados e as indústrias. Esta guerra que esmaga os produtores está a colocar em causa o auto aprovisionamento lácteo e a soberania alimentar de Portugal”.
A Aprolep adianta que a produção de leite em Portugal “continua sob enorme pressão, face aos elevados custos dos factores de produção (electricidade, gasóleo, adubos e rações) e a uma previsível baixa na produção de forragem, nomeadamente milho silagem, devido à seca e onda de calor, que poderá ser em alguns casos 50% face ao ano passado”.
“Esperava-se que a abertura do mercado de cereais da Ucrânia baixasse os preços das rações, mas talvez por causa da seca em toda a Europa, Estados Unidos, Canadá e China, as produções serão inferiores e as várias matérias-primas usadas nas rações mantém-se com preços elevados. A seca na Europa, nomeadamente em França, está a causar redução na produção do leite que costumava vir para Espanha a preço de saldo”, explica.
“Numa altura de crise não devemos deixar que um alimento essencial e completo como o leite falte nas prateleiras ou seja substituído por leite importado a preços incomportáveis, tal como acontece neste momento no Brasil onde os consumidores estão a pagar o leite mais caro do que a gasolina”.