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Terminou em Leiria o hádoc: “Tivemos excelentes filmes, como se viu na votação do público”
Ciclo de cinema documental em Leiria exibiu sete filmes ao longo de três meses
Na 11ª edição do hádoc, Escrever com Fogo, de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas, foi “o filme que mais agradou” ao público, que é “consultado em todas as sessões” através de votação, segundo a organização do ciclo de cinema documental, concluído na última terça-feira.
Entre 5 de Abril e 28 de Junho, o hádoc exibiu sete filmes no Teatro Miguel Franco, com 35 espectadores por sessão, em média, ou seja, quase 250 espectadores no total, número em linha com as edições de 2020 e 2021, que decorreram durante a pandemia.
“É baixíssmo para as nossas ambições e longe das médias que conseguimos em anos anteriores. Ainda assim estaremos acima das médias da programação regular do Miguel Franco, o que provavelmente dirá mais acerca dos hábitos cinéfilos dos leirienses que propriamente acerca do hádoc”, refere Nuno Granja, da associação ecO, que organiza o evento.
“A nossa sensação é que temos algum público fidelizado, que confia e reconhece a nossa programação, mas é muito forte o efeito do mediatismo que envolve determinados filmes, e isso é (infelizmente) determinante na decisão de levar as pessoas à sala”, esclarece.
Pela 11ª edição do ciclo de cinema documental, em Leiria, passaram Billie, do britânico James Erskine, sobre a cantora e lenda do jazz Billie Holiday, Escrever com Fogo, de Sushmit Gosh e Rintu Thomas, premiado em Sundance, entre outros festivais, Flee – A Fuga, de Jonas Poher Rasmussen, também galardoado em Sundance, além de premiado nos European Film Awards e no festival Visions du Réel, Terra, de Nikolaus Geyrharier, prémio júri ecuménico na Berlinale, Les Enfants Terribles, de Ahmet Necdet Cupur, prémio do júri no Visions du Réel, iHuman, de Tonje Hessen Schei, e Ostrov – Ilha Perdida, de Svetlana Rodina.
“Estamos confortáveis e satisfeitos com a qualidade da programação e cientes do impacto que os filmes têm nas pessoas que os vão ver. Essa é a missão, o que não invalida que naturalmente queiramos que mais gente partilhe esta experiência connosco”, comenta Nuno Granja.
Quanto a horários, as sessões às 21:30 horas comparam com a “boa resposta” obtida durante a pandemia, em que se realizaram às 19:30 horas, o que será motivo de reflexão.
Também na promoção do debate, o dirigente da ecO acredita que o hádoc tem “muita margem para crescer”, através da presença de realizadores para perguntas e respostas ou de outras iniciativas.
“Ver as pessoas saírem da sala com lágrimas nos olhos ou claramente afectadas pelo filme (também de forma positiva) é, obviamente, avassalador, mas estimular a partilha dessas experiências é um objectivo interessante e ainda não atingido por completo”, reconhece.
O formato do ciclo de cinema documental poderá sofrer “alguns ajustes” no futuro, mas o âmbito dificilmente será outro.
“Optámos por manter este formato mais próximo do cineclube, apostar na formação de públicos (temos feito trabalho junto das escolas) e assumir que o nosso foco está no conteúdo e não na forma. Entendemos, efectivamente, que ao termos uma seleção mais apertada de filmes e exibi-los neste formato conseguimos passar uma mensagem e criar momento”, diz Nuno Granja ao JORNAL DE LEIRIA.
O modelo de festival, mais concentrado no tempo, chegou a ser uma hipótese.
“Existe alguma resistência “cultural” no público actual. Constato uma orientação generalizada dos eventos para serem populares, imediatistas, gratuitos e orientados ao lazer (que é algo que se pode cruzar com a arte e a cultura, mas não é necessariamente a mesma coisa). Tudo isto é necessário e positivo, mas cria hábitos “culturais” que não se compadecem com iniciativas mais dadas à reflexão e à experiência interior. As artes de palco, o cinema (especialmente se fugir do circuito comercial), a própria literatura acabam por se verem limitados a determinados nichos, a menos que cedam à tal orientação de evento para o grande público”, conclui.