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"Todos os criadores são recolectores, mesmo os que não têm essa intenção"

18 fev 2016 00:00

As manobras digitais de João Pombeiro, antigo aluno da ESAD, que tem trabalhado com Eduardo Morais, Nuno Markl, Bruno Nogueira e Cave Story.

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Olhamos para as suas colagens digitais e nada do que vemos é seu, excepto o resultado final, que neste caso é o mais importante. Depois do caçador recolector, o criador recolector?
Todos os criadores são recolectores, mesmo os que não têm essa noção ou intenção. A História da Arte está cheia de exemplos de apropriações, referências, reproduções e citações a obras anteriores. Ninguém cria no vácuo. Obviamente que antes e durante o processo de criação se vai assimilando elementos da cultura erudita e popular, da História e a própria realidade. É um processo que está bastante enraizado na prática artística e que, por vezes, quando se dilui a fronteira entre apropriação e plágio, pode tornar-se polémico. O artista Richard Prince, e as suas apropriações do Instagram, é um exemplo bastante mediático disso mesmo.

Explique-nos o processo.
É muito simples: parto de um tema, por muito vago que seja, e começo a procurar imagens em arquivos e na internet. À medida que as vou encontrando e escolhendo, recorto-as digitalmente e começo a juntá-las numa página. Sigo sempre algumas regras auto-impostas, como, por exemplo, fazer o recorte das imagens de um modo muito tosco, como se tivesse sido feito com uma tesoura. Também não faço alterações às imagens, quer a nível de cor, quer a nível de efeitos digitais. Tento sempre aproveitar a plasticidade original das imagens. Este processo é muito obsessivo e entro numa espécie de transe do qual só consigo sair quando sinto que o trabalho está terminado, que geralmente é no final de uma noite em claro. As ideias vão surgindo à medida que avanço, pois umas imagens sugerem outras e nas pesquisas que faço encontro muitas por acidente.

Faz falta um bom arquivo ou basta dominar a pesquisa avançada do Google?
Inicialmente, usava muitas imagens que ia recolhendo de diversas fontes tais como livros, revistas, etc. Mas isso dava demasiado trabalho a digitalizar e tirava espontaneidade ao processo. Agora uso exclusivamente arquivos online e a pesquisa de imagens do Google. Gosto de poder pesquisar imagens por cor ou tamanho e, sobretudo, das relações aleatórias que um motor de busca permite e sugere.

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