Viver
"Todos os criadores são recolectores, mesmo os que não têm essa intenção"
As manobras digitais de João Pombeiro, antigo aluno da ESAD, que tem trabalhado com Eduardo Morais, Nuno Markl, Bruno Nogueira e Cave Story.
Olhamos para as suas colagens digitais e nada do que vemos é seu, excepto o resultado final, que neste caso é o mais importante. Depois do caçador recolector, o criador recolector?
Todos os criadores são recolectores, mesmo os que não têm essa noção ou intenção. A História da Arte está cheia de exemplos de apropriações, referências, reproduções e citações a obras anteriores. Ninguém cria no vácuo. Obviamente que antes e durante o processo de criação se vai assimilando elementos da cultura erudita e popular, da História e a própria realidade. É um processo que está bastante enraizado na prática artística e que, por vezes, quando se dilui a fronteira entre apropriação e plágio, pode tornar-se polémico. O artista Richard Prince, e as suas apropriações do Instagram, é um exemplo bastante mediático disso mesmo.
Explique-nos o processo.
É muito simples: parto de um tema, por muito vago que seja, e começo a procurar imagens em arquivos e na internet. À medida que as vou encontrando e escolhendo, recorto-as digitalmente e começo a juntá-las numa página. Sigo sempre algumas regras auto-impostas, como, por exemplo, fazer o recorte das imagens de um modo muito tosco, como se tivesse sido feito com uma tesoura. Também não faço alterações às imagens, quer a nível de cor, quer a nível de efeitos digitais. Tento sempre aproveitar a plasticidade original das imagens. Este processo é muito obsessivo e entro numa espécie de transe do qual só consigo sair quando sinto que o trabalho está terminado, que geralmente é no final de uma noite em claro. As ideias vão surgindo à medida que avanço, pois umas imagens sugerem outras e nas pesquisas que faço encontro muitas por acidente.
Faz falta um bom arquivo ou basta dominar a pesquisa avançada do Google?
Inicialmente, usava muitas imagens que ia recolhendo de diversas fontes tais como livros, revistas, etc. Mas isso dava demasiado trabalho a digitalizar e tirava espontaneidade ao processo. Agora uso exclusivamente arquivos online e a pesquisa de imagens do Google. Gosto de poder pesquisar imagens por cor ou tamanho e, sobretudo, das relações aleatórias que um motor de busca permite e sugere.
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