Sociedade

Vera Domingues: Homens tentam menos o suicídio, mas usam “métodos mais letais”

18 set 2018 00:00

A psiquiatra do Centro Hospitalar de Leiria fala dos riscos do suícidio a propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinalou na semana passada.

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Maria Anabela Silva

Assinalou-se, esta segunda-feira, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. O que leva uma pessoa a querer morrer?

O suicídio é um fenómeno de grande complexidade, não sendo identificável uma causa única. Sabe-se que está intimamente associado a patologia mental, nomeadamente a depressão, com valores na ordem dos 90%, mas nem sempre assim é. Será mais adequado falar em factores de risco para o suicídio. Dentro destes, podemos destacar variáveis sociodemográficas, como o estado civil (solteiro, divorciado ou viúvo), desemprego e estatuto socioeconómico baixo; variáveis clínicas, como doença psiquiátrica grave ou doença física incapacitante ou terminal; características de personalidade como impulsividade, rigidez cognitiva ou dificuldade na resolução de problemas; e eventos de vida negativos recentes.

Os motivos para o suicídio ou tentativa de suicídio variam em função da idade?

A relevância dos factores que referi é diferente consoante a idade e o ciclo de vida. Aspectos como o desemprego, emigração e dificuldades económicas são muito mais relevantes na idade adulta, altura em que as exigências financeiras, familiares e laborais são mais apertadas. Em idades mais avançadas emergem factores como o isolamento social, a viuvez e outras perdas significativas, bem como a deterioração da condição física, que podem estar ligados a doença mental também prevalente.

Por que é que a ideia de suicídio está presente na adolescência?

A adolescência é uma fase da vida DR caracterizada por grandes mudanças, não só a nível físico, mas também psicológico e sociofamiliar, em que a integração no meio social e escolar e a aceitação interpares são pilares significativos. Os jovens são tipicamente impulsivos e para alguns acresce a baixa tolerância à frustração, um contexto familiar disfuncional, experiências traumáticas, baixa auto-estima e o surgimento de doença mental grave e consumo de álcool e drogas ilícitas, que podem associar-se a ideação suicida, tentativas de suicídio e mais raramente suicídio consumado.

Por que é que há mais suicídios entre os homens?

Os números de suicídios indicam que há uma relação de aproximadamente três homens para uma mulher. O sexo masculino constitui- se, por si só, como um factor de risco de suicídio. Os homens fazem menos tentativas de suicídio, mas utilizam métodos mais letais e são menos propensos a procurar ajuda médica e a ventilar as suas preocupações. Por outro lado, os comportamentos auto-lesivos (sem verdadeira intencionalidade suicida, como por exemplo cortar- se, mas que visam essencialmente conseguir uma mudança) - são mais frequentes nas mulheres (dois para um).

De que forma pode ser prevenido o suicídio?

As estratégias de prevenção do suicídio passam pela intervenção clínica (diagnóstico e tratamento atempado da doença psiquiátrica quando existe) e pela minimização de outros factores de risco, mas também pela promoção de factores de protecção, como relacionamentos familiares e sociais satisfatórios, emprego estável, pertença a grupos com interesses comuns, investimento em novos projectos, entre outros.