A crise da água

“Se a mudança climática é um tubarão, então os recursos de água são os seus dentes” – Peter Gleick

71% do planeta está coberto por água, pouco mais de 2% são água doce e no máximo apenas 1% está acessível, com a restante aprisionada essencialmente em glaciares.

Globalmente, 70 a 80% da água doce é usada na produção alimentar e agricultura, sendo mais de 10 a 20% consumidos pela indústria.

Isto significa que apenas 0,007% da água do planeta está disponível para abastecer e alimentar os sete mil milhões de habitantes do planeta.

Neste século vamos talvez chegar a uma população global de pelo menos dez mil milhões de habitantes sendo que esse crescimento é esperado em partes do mundo que já sofrem com a escassez de água, a África urbana.

A crise da água é hoje política, é uma questão de escolha, um recurso abundante tornou-se escasso por causa da negligência e indiferença governamentais, de más infra-estruturas e contaminação, urbanização e desenvolvimento descuidados.

Estamos a enfrentar uma crise ligada à água, 2100 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água segura para beber e por volta de 2050, segundo as Nações Unidas, cinco mil milhões de pessoas poderão ter dificuldade de acesso a água doce.

Como remédio a curto prazo para a crescente seca mundial estamos a recorrer a depósitos de água subterrâneos, os aquíferos, mas esses depósitos levaram milhões de anos a acumular-se e não serão repostos rapidamente.

As alterações climáticas têm chamado a atenção para o que se vai passar com a água salgada (subida do nível das águas do mar, avanço das linhas costeiras para o interior) mas a crise da água doce é muito mais alarmante porque precisamos muito mais dela.

Durante as próximas três décadas, a procura de água pelo sistema alimentar global deverá crescer em 50%, a das cidades e indústria entre 50 a 70% e a da energia em 85% e a mudança climática promete reduzir significativamente o abastecimento.

O Banco Mundial alerta que sem qualquer adaptação significativa na distribuição dos recursos da água, o Produto Interno Bruto das regiões pode cair apenas devido à insegurança e aos conflitos armados.

Em Portugal, foram apresentadas novas medidas de mitigação dos efeitos da seca hidrológica em Portugal, a mais grave deste século.

Das 62 albufeiras monitorizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente, 37 albufeiras estão em situação crítica ou em vigilância, nas quais 10 estão em situação crítica, ou seja, com um volume armazenado abaixo de 20% da capacidade da albufeira.

Dos 308 municípios portugueses, neste momento temos 37 abastecidos por sistemas em situação crítica e onde foi reforçada a articulação com as autarquias para aplicação de medidas de poupança de água.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990