Opinião
A paz ou o petróleo?
A invasão da Ucrânia veio expor que a Europa não tem petróleo próprio
Há cerca de 10.000 anos que as comunidades humanas se sedentarizaram e aprenderam a obter comida, materiais e energia através do cultivo sustentável do território.
Nos últimos 60 anos esse cultivo sustentável do território tem vindo a ser substituído pela utilização, cada vez mais intensa e generalizada, da extraordinária energia do petróleo e do gás.
Por exemplo: os alimentos que eram obtidos pelo cultivo da fertilidade do solo e em equilíbrio com a vida dos ecossistemas passaram a ser feitos com pesticidas e fertilizantes químicos (produzidos a partir de gás); surgiram os edifícios em vidro climatizados pelo ar condicionado; os materiais naturais, como a pedra ou madeira, foram substituídos pelo betão e pelo aço (consumindo enormes quantidades de gás na sua produção); a comida que era produzida perto dos locais de consumo, hoje é com frequência importada do outro lado do planeta; as pessoas viviam, trabalhavam e dormiam numa área que se podia percorrer a pé, hoje somam-se muitos quilómetros nas deslocações do dia-a-dia.
A economia baseada no petróleo e no gás trouxe um falso progresso, trouxe o desleixo do território que passou a ser apenas uma plataforma inerte para pôr casas, fábricas, agroquímica intensiva, esgotos e eucaliptos; trouxe a ilusão de que os modernos métodos de produção de comida, materiais e energia podem dispensar o equilíbrio com a Natureza.
Têm sido muitas as tentativas para reduzir a nossa enorme dependência do petróleo, mas o dinheiro e o facilitismo da utilização do petróleo têm falado sempre mais alto.
A invasão da Ucrânia veio expor que a Europa não tem petróleo próprio e que só o consegue obter fazendo guerras, como fez no passado, ou comprando-o, dando milhares de milhões de euros a déspotas que mantém ditaduras implacáveis como os Nicolas Maduro, os emires das arábias ou Putin.
A uns, como os do Dubai, deu-lhes para se porem a comprar carros de luxo e arranha céus, mas a Putin deu-lhe para comprar um poderoso exército e vir fazer a guerra na Europa.
Se queremos parar de encher os bolsos a déspotas e de financiar o exército de Putin temos que cultivar de modo sustentável a comida, os materiais e a energia no nosso território, libertando-nos da dependência do petróleo.