Opinião
Alguma dor, uma nova hipótese de glória
O mundo mudou, a cronologia mudou e já nem as estreias se fazem nas (poucas) salas de cinema que ainda programam o seu cartaz com filmografias que dizem o mundo com uma linguagem onde o autor e o olhar se distinguem e nos acrescentam a mundivisão.
Sou ainda de um tempo e de um espaço em que ir ao cinema era um hábito raro.
A geografia e a história privada determinaram que nas primeiras duas décadas de vida visse menos cinema do que gostaria.
Mas na intimidade da sala escura encontrei desde cedo esse diálogo insondável que nos aproxima das personagens, dos desempenhos e do que nos filmes nos inaugura um olhar novo sobre os dias, sobre nós e os outros.
Depois de um feliz frenesim cinéfilo nos tempos de universidade, que me acolheu a timidez e os receios da grande cidade, vivo agora num tempo e num espaço em que, a par do encerramento das salas que quase foram a minha segunda casa, o cinema se vê em ambiente doméstico.
O mundo mudou, a cronologia mudou e já nem as estreias se fazem nas (poucas) salas de cinema que ainda programam o seu cartaz com filmografias que dizem o mundo com uma linguagem onde o autor e o olhar se distinguem e nos acrescentam a mundivisão.
Ter aprendido a gostar de cinema noutro tempo e noutro espaço continua, por isso, a conduzir-me à sala escura, ao ritual da escolha dos lugares onde a miopia não me trai e ao anonimato que me perdoa e esconde as razões do riso, da comoção, o abandono à banda sonora, ao movimento de um actor ou à fúria quando o olhar do realizador me decepciona.
Dor e Glória, do realizador espanhol Pedro Almodóvar, foi o mais recente filme que vi enterrada na cadeira da pequena sala de cinema onde ainda estava em cartaz.
A história parece resumir-se ao relato, talvez autobiográfico, do que aparentemente é o fim da carreira de um realizador de cinema de sucesso frustrado por não conseguir voltar a filmar e entregue às maleitas do corpo e da alma que o atormentam.
A dor física que se sobrepõe a
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