Opinião
Ano novo, Governo cansado
Parece que António Costa não sabe lidar com a sua maioria absoluta, dada pelos portugueses há menos dum ano
A tradição manda que no final de cada ano se façam votos para o ano que se inicia, esperando nós que seja sempre melhor do que o anterior. Terminou há poucos dias o ano de 2022, com um último trimestre a agravar-se bastante para a generalidade dos portugueses, por via do aumento da inflação, com uma forte e generalizada subida dos preços, bem como a alteração das taxas de juro que, por decisão do Banco Central Europeu, deixaram de estar a zero, tentando dessa forma suster a tendência inflacionista.
Só que esta conjugação de más notícias, trouxe uma grande preocupação para a esmagadora maioria das famílias portuguesas e também para as empresas, ganhando ainda maior pertinência o tal voto de que o actual ano possa ser melhor. E como muitas das decisões que impactam nesta problemática dependem do Governo, esperava-se que tivéssemos governantes motivados, empenhados e revigorados com a mudança de ano. Mas se o ano terminou mal para os portugueses, não se pode dizer que tenha sido melhor para este novo, e recente, Governo.
Digamos que esta avalanche de demissões se iniciou no Verão com a saída de Marta Temido, alguém que António Costa tinha lançado em 2021, no momento da sua adesão ao PS, como mais uma candidata à liderança do PS, tendo acelerado na recta final do ano. Primeiro foi Miguel Alves, ex-autarca de Caminha, que o primeiro-ministro foi buscar para ser o seu braço direito na articulação do Governo, já que a ministra que tinha essa tarefa, Mariana Vieira da Silva, se notava incapaz de tal desiderato.
Tendo tentado segurar o Secretário de Estado, lá teve que ceder, tantas eram as dúvidas suscitadas sobre um processo enquanto presidente de Câmara de Caminha, aproveitando a oportunidade para deixar cair mais dois secretários de estado, João Neves e Rita Marques, que há meses tinham mostrado, publicamente, a sua dissonância com o respectivo ministro, António Costa Silva.
Como prenda de Natal, António Costa teve Alexandra Reis, a tal que recebeu meio milhão de euros de indemnização da TAP e que nos querem fazer crer de que ninguém sabia, tendo levado consigo o poderoso homem do aparelho socialista, Pedro Nuno Santos (e que jeito lhe deu!). Não satisfeito, decidiu escolher uma Secretária de Estado da Agricultura que deverá ter batido o recorde de tempo mínimo num governo, cerca de 25 horas! É obra! Diria que se António Costa empregasse metade da velocidade destas alterações no seu elenco, em medidas que o País precisa de ver implementadas e pelas quais os portugueses anseiam, ainda mais neste ano nada favorável, estaria a prestar um bom serviço a Portugal.
Só que não é nada disso que está a acontecer e parece que António Costa não sabe lidar com a sua maioria absoluta, dada pelos portugueses há menos dum ano, tendo a desfaçatez de agora vir propor um questionário de entrada no Governo como se todas as questões aí enunciadas não devessem constar do escrutínio que se deva fazer a alguém que se quer convidar para um Governo da República!
E o cansaço é tanto que, nas sucessivas remodelações, já só se consegue convencer a prata da casa, diga-se militantes socialistas (e mesmo assim nem todos), a integrar funções governativas, quando o que Portugal precisava era de um Governo arejado, ambicioso e audaz para conseguir ultrapassar as dificuldades que se apresentam.