Opinião
Artes Visuais | João Belga, Paper View
A exposição luta por uma causa, mostra telas pintadas com palavras de ordem. Convida a libertarmo-nos
Está patente até ao fim de Maio, no foyer da editora Paper View, a exposição brecha, ou em inglês loop hole, do artista plástico João Belga. É composta por 30 pinturas e um livro editado pela Paper View Books, de 50 exemplares.
Entramos e temos duas paredes altas, uma à esquerda e outra à direita. Vemos cinco pinturas de médio formato em cada uma, maioritariamente pintadas em grisaille (técnica de pintura totalmente monocromática, comumente executada em tons de cinzento).
Num expositor originalmente concebido para expôr jornais e revistas, estão 20 pequenas telas. Para as ver, roda-se o expositor, baixamo-nos e levantamo-nos, tiramo-las do seu lugar e voltamos a reposicioná-las, como se de um livro se tratasse. A apresentação é peculiar, mas bem pensada e bem concebida, e está directamente relacionada com o conteúdo das pinturas.
Na parede do lado direito quando entramos, está uma belíssima tela de médio formato, que mostra no primeiro plano e em grande, uma caveira pintada de forma exímia. O segundo plano está preenchido com carrinhos de supermercado. Estão pintados de forma estilizada, mas detalhada o suficiente para se perceber um padrão de formas geométricas, rico, rigoroso e ponderado. Quando observamos a sobreposição destas duas imagens, percebemos que o autor procura profundidade no pensamento, um memento mori - lembre-se que vai morrer...
A exposição luta por uma causa, mostra telas pintadas com palavras de ordem, mas a causa em questão é subjectiva. Convida a libertarmo-nos de algo, a não sermos cordeirinhos dum qualquer sistema ou agenda. Qual, em específico, não se percebe, mas como, não resta dúvida nenhuma, através de um espírito sónico de rebelião e revolta.