Opinião
Artes Visuais | Neuza Matias: paisagens de outros mundos
Neuza Matias conserva a frescura de uma criança, artista, a brincar e ainda assim consegue pôr adultos a pensar em coisas que não são brincadeira nenhuma
“Every child is an artist. The problem is how to remain an artist once we grow up...”
Pablo Picasso
Neuza Matias (2002) vem de uma pequena terrinha chamada Olival, algures perdida entre Tomar e Ourém. Formou-se em artes visuais na Camberwell College of Arts (University of the Arts London), e trabalhou em part-time na Royal Academy.
O mundo misterioso de Neuza Matias é-nos apresentado em pinturas povoadas por figuras que parecem brinquedos. Vemos paisagens de outros mundos, misturadas com objectos do nosso mundo. As personagens, também ecoam esta dualidade. São brinquedos do nosso mundo mas que representam figuras do mundo da fantasia.
É muita informação para se digerir numa só ocasião. Montes de cores espalhadas por todo o lado. Começamos a tentar ler a pintura e rimos. Primeiro que tudo, porque é engraçado, como um desenho duma criança é engraçado e depois porque no meio deste cenário absurdo, geralmente encontramos um paralelo óbvio com o nosso mundo.
Neuza Matias conserva a frescura de uma criança, artista, a brincar e ainda assim consegue pôr adultos a pensar em coisas que não são brincadeira nenhuma. Vemos monstrinhos felpudinhos fofinhos, à primeira. À segunda percebemos que estão a fazer coisas feias ou pelo menos absurdas e que não são assim tão fofinhos. A partir dali somos reféns da narrativa. Queremos desenrolá-la, entender o que ali se passa. Mas é-nos impossível, porque é-nos apresentada ora duma certa forma, numa observação, ora de outra forma, na observação seguinte. É um estratagema tipo planta carnívora. “Olha aqui tão bonito... e zás... tás preso”. Queres perceber e não consegues.
A pintura deve ser assim, reformulada a cada olhar e as pinturas da Neuza fazem isto.
Quando a conheci tinha 17 anos, agora tem 21, e nela encontro resposta ao dilema apresentado por Pablo Picasso.