Opinião
Artes Visuais | Pedro Não Bonito
Tudo nos é apresentado em forma de piada. Não tem pachorra para ser politicamente correcto, nem está com medo de usar sarcasmo
Quando conheci o Pedro tinha terminado uma licenciatura em Évora e estava a passar uma parte do verão em Leiria, terra natal de sua namorada, a Carlota. Os dois candidataram-se a montar atelier no Serra e lentamente começaram a aparecer. O Pedro começou a passar algum tempo comigo e construímos uma relação interessante. Ele fazia-me rir, eu dava-lhe dicas de pintura... senti que ele as percebia bem sem grandes explicações e por isso convidei-o a trabalhar comigo nuns projectos que tinha em mãos. Em ambos brilhou.
No fim do verão, recebeu notícia que foi aceite em mestrado nas Belas-Artes de Lisboa e puf, a rapidez com que apareceu, desapareceu. A relação manteve-se maioritariamente online, mas de vez em quando ainda aparece. A semana passada fez uma visita e ofereceu-me um casaco, com, segundo ele “um estilo mais jovem...”
A pintura do Pedro parece vir de uma atitude streety, mas bem informada. É de execução rápida e altamente contrastante, mas controla de forma elegante as cores, usando manchas maioritariamente complementares. Desenha imenso, de forma rápida também, em pequenos cadernos que transporta consigo para todo o lado. A partir deles escolhe as composições que considera que poderão resultar em pintura e faz a transferência de forma muito descontraída para as telas.
Parece-me que está a enrolar no percurso clássico de um pintor figurativo: desenvolve exaustivamente um modo de fazer, nasce um tipo de figuras distintas, agrupa-as, contextualiza-as, e aplica-lhes as suas próprias preocupações. No caso do Pedro tudo nos é apresentado em forma de piada. Não tem pachorra para ser politicamente correcto, nem está com medo de usar sarcasmo. Ataca as telas com pretextos simples, que fazem rir. Um murro na cara, um pançudo em tronco nu com uma faca, uma bouquet de flores, um casal a vir da pesca...